A natureza de dar

Sempre defendi até aqui e continuo até ao momento a defender que só podemos dar o que nos sobra. Com isto quero dizer que primeiro temos de nos preencher com amor e respeito por quem somos, para que desta forma não sejamos pedintes à mercê do que o exterior nos possa devolver. Porque aí estamos sempre sujeitos a nos desiludirmos e dececionarmos, estará sempre aquém das expetativas ilusórias que projetamos.

Contudo, hoje li uma mensagem que me marcou, de uma pessoa que é missionária e que tem dedicado a sua vida a causas humanitárias. E perante a pobreza e as condições que nós aqui neste cantinho de Portugal nem sequer conseguimos imaginar, apenas intuir, criar uma imagem hipotética e sempre limitada ao alcance dos nossos olhos sobre como é aquela realidade das Áfricas. Esta pessoa dizia qualquer coisa como "enquanto continuarmos com a visão de que só podemos dar o que nos sobra e não partilharmos o que temos, que a vida do outro podia ser a nossa. Tanta indiferença e egoísmo. Que estamos aqui para nos partilharmos".

Concordo na íntegra com o seu testemunho. É claro que se estivermos vazios por dentro o que vamos dar e partilhar é esse egoísmo e indiferença. Não temos mais do que isso para dar. Na minha verdade, quando estamos cheios de amor e respeito por nós podemos dar tudo, que nada nos faltará. Podemos despir as nossas roupas, ficar nus, dar tudo o que temos e seguir caminho e ainda assim continuar cheios.

No outro dia partilharam-me uma lenda de uma menina, que já não me recordo na íntegra, mas em traços gerais ficou a mensagem. A menina sai da sua terra para descobrir o mundo, leva consigo uma merenda e a roupa do corpo com agasalho. Pelo caminho vai encontrando outros personagens que lhe vão mostrando a fome, e ela alegremente dá a sua merenda, mostrando o frio e ela dá o seu agasalho, e ao longo do caminho fica despojada de tudo, até mesmo da roupa que tinha vestida. E quando pára para dormir, debaixo de uma árvore, é aquecida pelos ramos desta e acorda de manhã com roupa, feita das estrelas e continua a viagem com a abundância que lhe vai aparecendo no caminho. A moral desta lenda reporta a alegria desta menina cheia de si, dá pela alegria de dar, nada lhe falta porque está cheia de si. Está no presente, no momento, desapegada das formas, confiando na vida.

E quando estamos cheios a nossa natureza é de Dar. Porque é tudo o que somos. O Amor irradia, dá-se, partilha-se, é. Não se guarda em caixinhas, não se prende, não se agarra, não quer nada. Aceita o que é.

É claro que este é um trabalho de vida, e quando se está carente de amor, o egoísmo prevalece. Quanto maior é o Amor que sentimos por nós própri@s, maior é a nossa generosidade. aquela que é gratuita e não espera nada, pois damos, porque essa é a nossa natureza.

Assim como as árvores que dão os seus frutos. É a sua natureza, nós apanhamos os frutos, comemos, é árvore continua a dar frutos, de acordo com os seus ciclos.

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