A semente

Sou feita desta terra. Sou feita desta água. Uma luzinha, um brilho que penetrou as tuas entranhas mais profundas. Ambiente escuro e húmido. A semente jogada na terra, o embrião nas águas uterinas. Escuro acolhedor, protegido, seguro. E das trevas brotou a luz.

Procuramos desesperadamente caminhar para a luz, ela chama-nos, aquece-nos, faz-nos abrir os braços e florir. Mas o momento de brotar da terra, de rebentar as águas representa um choque. É o impacto, o contraste entre os dois mundos, do escuro e luz. Conhecido e desconhecido. Mas a pouco e pouco vamos esquecendo e habituando-nos à luz. Os papéis parecem querer inverter-se. O escuro que nos acolheu e nutriu torna-se desconhecido, inconsciente e apenas queremos reconhecer e abraçar a luz, o consciente e visível aos olhos que vêem.

As raízes ficam ali soterradas no escuro, mas foram elas que nos deram forma, que nos desenvolveram, que nos fortaleceram. É lá que vamos buscar os nutrientes para brilhar com mais força e claridade.

É o escuro que nos permite perceber que existe luz. É na dança entre os dois planos que vivemos íntegros, nutridos e saudáveis. E quanto mais aprofundamos o escuro, mais as raízes se aprofundam e ganham segurança para que possam suportar a luz. Até que já não haja diferença entre o escuro e a luz, porque os teus olhos vêem em ambos os planos e manifestam-se, porque é esse o seu papel criador.

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