Face to face

Chegou o momento de conversar seriamente contigo. Estás aí há tempo demais.
Tenho permitido que estejas, estás bem instalado. Fazes-me companhia.

Mas sei que já não preciso de ti. Não fiques zangado comigo, mas sabes, fazes-me mal. Nem sei bem porquê que te procurei, mas trouxe-te para a minha vida, abri-te as portas, primeiro timidamente, mas depois deixei que entrasses à vontadinha. Quando dei por mim, já estavas a dar ordens, a impor a tua vontade, a controlar-me. Por uns tempos não me incomodei, sabia-me ter-te a meu lado.

Longas conversas tivemos em silêncio. Foste o companheiro fiel que assististe aos meus momentos mais tristes, às minhas alegrias e euforias. Estiveste lá quando senti medo, ansiosa e quando me senti só. Usei-te, mas não tive real consciência de que o estava a fazer. E por isso vamos ser sinceros, não preciso de te usar mais, hoje tenho-me a mim. Já não preciso de te usar para tapar os meus buracos.

Foi muito tempo que me agarrei a ti. Não é fácil largar-te. Estás na minha memória. E mesmo sem sentir a tua falta, dou por mim a usar-te. É instintivo. Eu percebo que possas ficar triste comigo, mas eu sou mais importante. Agora tenho de te dar uma nova forma, para que a minha memória te liberte e te deixe ir em paz.

Precisava de te encarar cara a cara e dizer-te, obrigada por me teres servido e mostrado que já não preciso de ti.

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