A arte das formas

Das formas nascem formas que continuamente continuam a se recriar.

Escolhemos vir cá viver uma experiência na matéria e para que a manifestação se dê, o nosso espírito precisou de uma forma, um corpo que está em constante transformação, é impermanente, como de resto todas as formas. E para que a consciência desta experiência se dê é necessária a matéria, as dinâmicas, as experiências. E que bela forma de arte é esta manifestação. Mas o nosso olhar está tão viciado a olhar para as formas semelhantes que dificilmente tem o distanciamento para observar a bela obra de arte que é.

As linguagens abstractas facilitam o acesso ao material inconsciente que nos habita dentro para que possamos tomar mais entendimento sobre os ciclos que vamos passando, as etapas e processos de vida. E que nos possamos apreciar como a obra de arte em constante construção.

E tudo começou com um desenho para processar um estado de alma, há que exteriorizar, dar forma ao que de outra forma não consegue ser expressado com tamanha liberdade e honestidade. E das cores nascem formas, elementos, símbolos, toda uma composição até que o papel se preencha e diga, por agora estás terminado desenho. Um encerramento de um ciclo para que outro se abra. A análise do desenho, o sentir que ficou lá despejado e o que fica por ter sido expresso. Os símbolos e as formas que remetem para arquétipos, contos, significados. E daí nascem novas construções. Um instrumento musical que se cria "um pau-de-chuva". Os materiais que surgem, a montagem, a composição, mais uma obra que nasce. E daí mais uma contrução se dá. Dança. É preciso dançá-la. A pesquisa das músicas, a vestimenta. A música que vem. E mais instrumentos que se juntam, um ritual que se cria.   E o que era dança, passou a ser um espetáculo dançado, tocado e cantado.

A integração dos elementos, a transformação que acontece. E o que era suposto, dança, ganha uma nova visão à medida que vai sendo dançada. E o tambor que é tocado com batuque para depois ser trocado pelas mãos que querem sentir. A dor que é expressa para se tornar júbilo. O cão que se junta à festa e que pula, brinca e mima com a sua inocência e rebeldia. Ora de barriga para o ar a pedir festas, ora a morder, ora a dar beijinhos e também ladra na sua euforia. A dança é uma brincadeira, e ele quer brincar.

E a forma transforma-se. Já não é uma dança a sós, mas acompanhada pelo cão, que participa. E os instrumentos que se querem tocados ganham vida e participam e a voz resolve-se juntar. A orquestra estava pronta, a ganhar a sua vida própria e a ganhar novas formas, fora do que inicialmente se pensara previsto.

E não é assim a vida? Aproveita a viagem independentemente de onde ela te possa levar.

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