Desamarrar

Entrou nessa caverna escura mais uma vez. Não sabia o que procurar, mas veio ao seu encontro. Quis proteger-se aí encontrou conforto. A curiosidade fê-la espreitar e percebeu que aquele estranho conforto, revelava amarras. Do querer esconder, fechar, encolher. Não havia motivo aparente, aquela caverna escura nada trazia de ameaçador, mas já lhe era natural o recolhimento, acostar-se àquele estranho conforto de sossego. Havia tanto por descobrir e ela ali estava presa no seu casulo, não queria nascer e desbravar o mundo. A pouco e pouco os grunhidos começaram a surgir, afinal sentia-se presa, algo a prendia àquele estado de letargia. A raiva, a violência por se soltar começava a brotar por todos os poros da sua pele. Um murro na mesa de basta! Chegara o momento de soltar, deixar ir e caminhar. Com a força feroz de uma leoa e a doçura de uma criança.

E quando dá por si está num palco, cheio de calor e luz. Toda a gente a olha e ela abre os braços para receber e afirmar a sua presença. Pouco depois relaxa, já não precisa de se impor, nem marcar presença. Simplesmente está, é. Não importam os olhares, apenas se permite a desfrutar do seu som, da sua expansão. Chegara a casa, o palco. Não que precisasse dele para aplausos ou reconhecimento externo. Era ali que era feliz, que a sua voz saía e a surpreendia. Era ali que ela abria e fluía, a verdade manifestava-se ali, sem que nada fizesse ou esperasse. Não precisava de nada, a presença bastava-lhe e revelava-a em cada respiração.

Comentários