Tudo o que tu te dás

Tudo o que te dás carrega o historial de memórias lembradas e esquecidas no tempo. Recordas aquela vez em que não te deram atenção, quando tudo o que querias sentir era o colo, que eras importante. Quando sentiste que não eras prioridade e atenção desviada para o irmão/ irmã. Os "nãos" tantas vezes ditos que te reprimiram as vontades e te fizeram encolher. Quando achaste que não eras suficiente para ser amado e a pessoa mais importante para os teus pais, porque estavam mais ocupados com outras coisas, ou não foste a menina em vez do menino tão desejado. Porque eras desejeitad@. Não eras tão inteligente como... enfim tantas e tantas coisas ditas e não ditas expressas pelos cuidadores e percepcionadas pelas lentes da criança que tinha as suas próprias necessidades por saciar que gravaram no seu íntimo carências e registos de sobrevivência à vida, pois que completamente dependente tinha de arranjar a sua fonte de alimento.

O que é preciso fazer para garantir o amor? Como posso agradar? De que formas eu sei que recebo sempre? O é esperado de mim?

E a criança cresce e torna-se um adulto infantilizado, a usar dos mesmos mecanismos para obter atenção e amor, seja dos relacionamentos amorosos, amizades e todas as interações. De forma muito inconsciente exige que lhe saciem as carências e dá, dá à espera da retribuição. E continua a perpetuar os padrões da criança que precisava de sobreviver.

Olhando de uma forma mais profunda para essa criança que habita verifica o quanto de ti continua a repetir a falta de atenção e cuidado que os teus pais não te davam. Quanto de perfecionismo continuas a cultivar em ti porque os teus pais te exigiam e para lhes mostrares que eras exímio esfolavas-te para mostrares-te à altura, porque aí obterias a aprovação e o amor que querias? Quando reclamavas que tinhas de preparar as tuas refeições logo desde cedo, porque os pais não te davam esse mimo, e agora adulto, que parte de ti se desleixa e não te dá esse mimo e cuidado com a alimentação? Que parte de ti reclama da falta de afecto que recebeu, dos abraços e beijinhos e que parte de ti enquanto adulto é frio e não se permite a dar e receber o toque e afecto? Que parte reclama dos gritos e chapadas que recebeu e hoje adulto reclama, grita e agride?

Quantas relações na tua vida repetem o padrão? Dos sentimentos de injustiça, desarmonia, desamor, violência, dependência, controlo?

A vida é uma roda que gira e o processo passa por dar-se conta. Denunciares-te amorosamente e dares-te a ti, para que não fiques à mercê da tua própria carência. Que te possas ir despindo e amando-te do jeito que és, nutrindo-te e preenchendo-te de ti. Tudo o que tu te dás irá repercutir-se nas trocas que exerces com o mundo lá fora. Como escolhes alimentar-te?

Comentários