Respira

Entraste silenciosamente. Quase não te senti e assim se passou uma semana, percebendo que talvez tivesses chegado, mas ainda não tinha sentido a tua presença.

Pezinhos lã, são os teus, tempo que passas rápido e outras vezes devagar. Por vezes mostras-te pesado outras lento e apenas de preescuto, sem nada fazer, apenas observo.

Há o tempo lá fora, e há o tempo dentro. E como o desfasamento entre os dois cria várias realidades em simultâneo. O ritmo desenfreado, o movimento que ocorre lá fora e como dentro tudo se passa em câmara lenta.

E os ciclos vão alterando também esse movimento, e eis que chega a lua nova, trazendo um novo respirar, uma semente que se prepara para entrar na terra.  E há que fazer o buraco na terra, colocar a semente, preenchê-la de terra e regá-la. Há que cuidar, nutrir para que ela possa brotar.

É tempo de respeitar os tempos, a resiliência perante a inação aparente para que a semente possa germinar Fazer a parte que compete, manter o foco, a determinação, a fé naquilo que move internamente, apesar do barulho e distrações que ocorrem fora.

Para que a semente não seja contaminada pelas pragas. Que o silêncio não seja perturbado pelas vozes que estremecem. O desafio não tem de ser luta se respondido com alegria e entendimento de tudo o que é. Presença, o único instante na fração do tempo, a pausa entre o que acabou de ocorrer, a inspiração (passado) e a expiração que se segue antes de ser iniciada (futuro), em ciclos que se repetem até ao último sopro de vida do corpo físico.

E neste compasso nasce a musicalidade, o ritmo, a criação, na espontaneidade da dança que é viver que tudo contém, mas que não pode ser contida.

Respira.


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