Reencontro com os amores que nos recordam o Amor




Há gatilhos que nos acionam a memória. E como é que aquela música que já não ouvia a algum tempo me despertou um sorriso de momentos tão doces de encontros, desencontros e do maior encontro que podia ter, comigo. "Just breathe". Já lá vão os anos... mas o Amor que se sente não se perde, transforma-se.

Amor à primeira vista. Expressão tão usada, mas tão pouco lógica de ser explicada com a razão. Duas pessoas que se encontram e sem mas nem porquês, têm uma empatia instantânea, e no meio de tanta gente, com tantas voltas que se dêem vão sempre parar ao lado uma da outra. Um magnetismo que as atrai inconscientemente. Pessoa gira diz ela. Deixa-me fugir diz ele, não consigo estar perto dela.

E assim se deu o primeiro encontro entre estas duas pessoas, até se voltarem a encontrar meses depois, como se fossem amigos de longa data. A cumplicidade, o querer estar perto, a brincadeira. Mas ela não o tinha visto como homem. E ele, ainda que a tivesse visto, resistia-lhe ao máximo. Não podia aproximar-se. Até que o inevitável sucede, entre cigarros e risadas, os corpos ganharam vida própria para cumprirem o que a mente tentava controlar. As palavras poderiam ser muitas, mas optaram pelo silêncio e por se permitirem sentir.

Nunca houve necessidade de palavras para expressar sentimentos, não era preciso. E amaram-se em liberdade, ainda que para ela fosse tudo novo. No seu íntimo queria agarrar, conter, mas com o tempo foi percebendo que essa era a sua carência, e que cada vez que tentava agarrar perdia um pouco mais daquilo que era a essência de viver.

Sentimentos não se agarram, vivem-se. E quando começou a perceber, começou a desfrutar e a sentir-se inteira. Estava viva e cheia de um sentimento fantástico, Amor. E foi ele que lhe permitiu essa descoberta. Esse Amor morava dentro dela e ele tinha-lhe permitido que ela visse essa magia.

E ela olhou para a sua vida e para o mundo que a rodeava e começou a espalhar o que tinha dentro, a alegria, a vontade de amar, de se doar. Começou a criar, a expandir. E ele ensinou-lhe que apesar de ter sido ele a despertar isso nela, não queria que lhe fosse devolvido a ele, mas que ela pudesse ser livre. Apenas foi o despertador. Nunca lhe prometeu nada, porque queria que ela pudesse brilhar sozinha. Em silêncio, ele assistiria à sua dança, pois ele achava que não tinha nada para lhe oferecer, tinha feito outras escolhas.

Nunca percebeu o tamanho da sua generosidade e respeito para com ela. Ofereceu-lhe a liberdade de expressar o Amor sem limites e barreiras. De respirar, sentir, saborear, sem promessas, apenas com o coração.

Nunca houve início nem fim, nem despedidas, nem palavras para descrever o sentido e vivido. E ambos sabiam que se queriam bem, sempre se quiseram, ainda que essas palavras nunca tenham saído das suas bocas.

E o Amor esse permanece, em cada música, em cada letra, em cada memória, em cada cruzamento que os nossos olhos se cruzem. O Amor é e acrescenta-se, curando os fragmentos que moram dentro, unindo-os, tornando o ser mais inteiro e uno consigo mesmo.

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