Caminhando no Sahara




Estivera lá 5 anos antes sem que nunca tivesse posto lá os seus pés e corpo. Foi numa bela noite em que deambulava pela descoberta de novas músicas e que aquela lhe entrou pela casa dentro e transportou-a para uma terra dourada onde nunca estivera, mas que todas as suas células reconheciam. Uma memória escondida algures no seu ADN.

Nunca sonhara lá ir, nem qualquer desejo se assomara, contudo, desde esse dia ao longo dos anos que seguiram, várias imagens, referências foram aparecendo, sempre evocando aquela terra dourada. Até que alguém de repente, identifica o nome e a vontade de lá ir e o convite para desenvolver todo o projeto em conjunto. Logo sentiu-se lá, sem qualquer expetativa, nem vontade de saber mais sobre o que poderia lá encontrar, nem sequer quis pesquisar sobre a sua história.

Caminhara pelo prazer de descobrir, de se permitir sentir, sem referências exteriores, conetando-se com os seus sentidos. Nunca duvidara sequer por um minuto de que a viagem não se realizara. E tudo saiu exatamente como o planeado, os locais escolhidos, foram exatamente os pesquisados, sem que isso fosse possível de adivinhar atempadamente, pois que aquilo que parecera um projeto possível de alinhavar com todos os detalhes individualmente, depressa se passou para algo bem mais detalhado e complexo e que seria mais fácil delegar uma empresa do ramo. E eis, que sem saber, a empresa escolheu os locais inicialmente escolhidos, com todas as vírgulas.

Mas mais do que esta óbvia e palpável coincidência de manifestação concreta, eis que aquela terra vermelha e dourada a fez sentir em casa, uma pertença de lar, de origem, de silêncio e eis que o guia lhe diz ter-se encontrado os vestígios arqueológicos do que se estima ser os primórdios do 1°humano na terra. 

E como explicar toda a vida que ali respirava e vibrava? E o encontro entre o céu e a terra naquelas terras douradas? Já estivera lá, já tivera nascido ali e voltara lá para renascer novamente. Tudo lhe era familiar, no entanto tudo estava a ser literalmente vivido pela primeira vez. E se só agora 2 meses depois as palavras começam a sair na tentativa de exprimir o que sentira, 5 anos antes  tivera a capacidade de definir melhor todo o sentir de comunhão e unidade.

E agora apenas permanecia o inexprimível que trouxera dentro, um novo respirar e consistência que lhe transformaram o olhar e toda a estrutura de uma forma que apenas poderia ter um vislumbre e não a consciência total do processo que ocorra num nível subtil, muito maior do que a mente pequena pudesse absorver.

Descobriu que o infinito cabe num grão de areia e se funde na imensidão do céu. Como cada reflexo muda a cada instante, mantendo o véu da permanência, o efeito ilusionista que se quebra em cada passo que se avança  e revela um novo caminho e trajetória. Um movimento “aparentemente” subtil que cria infinitas possibilidades em cada fração de segundo. E lá, percebeu que aquelas pessoas de uma paz luminosa e alegre estão mais próximas da vida, pois escutam-na e vivem em consonância. Quase não precisam de palavras e comunicam tanto. A música está dentro e fora deles e ecoa com uma vibração harmoniosa e dançante. E ela, sempre que pensava em pedir algo não precisava usar palavras, aquelas pessoas pareciam ouvir os seus murmúrios e respondiam de acordo.

Sahara fora acordado no seu coração, tinha-se recordado que fazia parte dela, e finalmente encontrara esse pedaço em si, lá.

E se já a algum tempo sentia o quanto a enriquecia viajar, lá percebeu o significado. Eterna caminhante, o caminho fá-la recordar-se, encontrar partes de si, na terra que respira, nos olhos dos outros reencontra as partes da sua própria unidade. E na re-união de si, vai criando novas formas e possibilidades como os grãos de areia que reunidos se movem por longas e longas distâncias reunindo -de com outros grãos e transportando a sua sabedoria, de terra em terra, espalhando-se, num eterno movimento. Assim era ela, pequena, mas infinita, eterna.

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