A sós com a solidão




Num palco gigante, sem ensaios nem ditas cálias, assim escorrem as histórias que se vão desenrolando, a minha, a tua, as nossas. E tanto vibra a história que esquecemos ser atores a respresentar papéis neste grande cenário que é a VIDA. São histórias que emocionam, que fazem rir, chorar que salvam vidas que matam... histórias que vibram.

Em cada sopro, em cada recanto, em cada música uma nova página se abre e uma narrativa se conta. Somos feitos de mundo, vivem em nós os elementos, a água, ar, terra e fogo. O microcosmos do macro, onde o sistema complexo de células, neurónios, órgãos, sangue, artérias espelham este espaço exterior que habitamos que vai para além do espaço e do tempo.

E a emoção dentro assim como o tempo fora revela a temperatura e produz efeitos no ambiente envolvente. Tudo está interligado e conetado. Nada está fora, nada está dentro, tudo está.

E olho-te, na tua história revejo as minhas partes. O que ando cá a fazer? Para quê? Quem sou eu? Que angústia é esta que me persegue, a não identificação com a realidade que perceciono, a incompreensão de quem me rodeia que me faz fechar neste meu casulo com os meus tormentos. A não pertença, o sentimento de solidão.

Tantas vezes perceciono essa inquietação de solidão no teu olhar, o vazio desconcertante de estar perdido num mundo que parece tantas vezes cruel. Abandonad@ aqui com tantos desafios e aventuras sem sentir o colo do amparo que suporta, que aceita tolera e ama.

São tantas as capas, os pesos que se carregam... As histórias gravadas na caixinha da memória, tantas subterradas e que condicionam a ação e perceção de mundo. E sem querer saímos à rua com uma armadura de ferro para que possamos sentir-nos protegidos e defender-nos de qualquer ataque, e levamos também a espada, porque aprendemos também a atacar para nossa defesa.

E continuo a olhar-te, já que és parte de mim e, eu sou tu também. E sinto a tristeza, as armaduras que ainda também carrego e celebro as que também já larguei. 

E ainda que te abrace, te aceite devolvo-te à tua condição, que é também a minha. Viemos sós, nascemos com a autonomia para respirar por nós, e preparados para nos locomovermos e alimentarmo-nos por nós. E ainda que possamos relacionar-nos, amar, a única certeza é que também partiremos sós. Tudo está em movimento e nada permanece no mesmo lugar. Então se assim é, como podemos depender do outro para sentir pertença, segurança e amor?

Se em ti encontrares o teu ninho, o teu suporte e amor continuarás a relacionar-te, sim, mas jamais te sentirás só, pois estás preenchido de ti. És um viajante que está de passagem para desfrutar das aventuras que a vida te vai apresentando, mas nada te pertence, moras num corpo que te foi emprestado para desempenhares vários papéis e ele vai-se transformando e tem um prazo de validade. A vida apresenta-te formas, matéria que recebes desfrutas sabendo que também elas se transformam e seguem o seu ritmo. Recebes e soltas assim como respiras, inspiras o ar para logo o soltar, num movimento contínuo.

E queria poder-te olhar,chegar a ti e poder mostrar-te que a vida pode ser simples, porque assim é ela, mas essa é a tua escolha, aqui estarei se me quiseres receber, respeito e honro-te seja qual for a tua decisão.

Não estás só. Mora em ti uma vida enorme que faz o teu organismo respirar, suster-te e funcionar, a quantidade de células que trabalham 24 sobre 24 horas para te manter vivo, faz-te estar tão acompanhado, as tuas ideias, sonhos, a vontade de amar, de te sentires pertença denuncia a grande vontade que tens em receber-te e amar-te. Dá-te uma oportunidade e experimenta apaixonares-te por ti ;)

Comentários