O casulo



Eis que se encontrara. E olhava-se atentamente. Os seus braços eram longos e abraçavam a sua longa cápsula. Lá dentro pulsava vida, um coração gigante bombeava para todas as artérias, tudo circulava e interagia com todos os organismos que dentro moravam. Tudo ordenado, seguindo a respetiva ordem natural e expandia uma radiação para além do tecido capsular, ecoando além fronteiras. Dentro o seu corpo torneado fluía como um rio dançante.

Porém, a cápsula encontrava-se fechada, como uma semente pronta a brotar, mas ainda subterrada. A imersão dentro da sua cápsula pululava já com vontade de sulcar e romper a terra. Mas ainda não chegara o tempo. O tempo de soltar todas as teias e raízes. A fragrância já se soltara, a vontade de dançar, mas os seus braços gigantes teimavam em protegê-la.

E como se nada restasse, senão aceitar esse casulo, resolveu dar que fazer aos seus braços. Primeiro deu-lhe lápis de cor para que pudessem criar movimento e soltar. A seguir deu-lhe papel para que pudesse derramar as cores no papel. A seguir deu-lhe música para que se inspirassem. E sem que se desse conta o casulo começou a ganhar uma forma mais ampla e aberta. Começaram a comunicar com o mundo, a criar outras formas mais diversas.

Uma nova explosão de luz acontecera e a irradiação daquele que outrora fora um casulo começara a desabrochar.

Agora uma nova vida, um novo ser se aprontara para nascer.

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