As emoções de Sofia



Era uma vez um dia regular. O  despertou tocou. Levantou-se, tomou o banho e o pequeno-almoço de frente para a janela como sempre gostara, olhar para o dia sem ainda o ter tocado. Tinha uma espécie de magia olhar de dentro de casa para a rua. Dava-lhe uma toque especial, como se tivesse fora do cenário e ainda não tivesse entrado nele. O dia só começava quando entrava nele, quando saía porta fora e lhe deixava o vento bater na cara e respirava um ar vivo.

Dentro de si morava um mundo. Queria saber como funcionava dentro e fora. Tudo lhe tocava de formas tão diversas. Conhecia a dor, a angústia, a incerteza, a dúvida, o medo. Houve um tempo que se deliciava a aprofundar essas raízes, a deixar-se estar lá, a mergulhar profundamente nessas esferas sombrias, a querer entender e abraçar. Houve outro tempo que se zangou e quis deixar de olhar para essas partes que a levavam para um limbo fragilidade, solidão e separatividade.  Como resultado deixou de se conetar com as partes de si que a incomodavam. Criou uma redoma de vidro para que nada lhe tocasse e por uns tempos o toque na sua própria pele perdera sensibilidade, não conseguia sentir a textura e a temperatura de si. Foi-lhe confortável durante uns tempos seguir assim, era literalmente intocável e isso permitia-lhe avançar, sem limites. Foi-lhe útil para alcançar muitos sonhos e para experimentar.

Todavia, aquele dia regular transformou-se. Aquela janela que separava o seu mundo interior do exterior, que de certa forma a protegia desmaterializou-se rompendo a ilusão do véu... e a partir daí todos os fusíveis se ligaram entre si e todas as conexões se restabeleceram.

Conseguia sentir tudo sem que a quebrasse, sentia-se pertença e em união com todas as coisas.  Como se lhe tivessem tirado os olhos, os tivessem lavado em águas puras e límpidas e os voltassem a colocar. E agora esses novos olhos viam o mundo com um novo brilho, beleza. Tudo lhe evocava o sentir e lhe despertava a imaginação.  As combinações infinitas,  as possibilidades, a abundância, a riqueza de sentimentos, emoções, a riqueza da evolução, da criação, da alquimia era fascinante. O eterno movimento. A unidade, a pertença, a ligação, as ligações, as interseções, as oposições, os contrastes, a matéria prima abundante que permite construir, desconstruir. E melhor começara a perceber que tudo cabia numa só palavra -  Amor. A melodia, o ritmo, o compasso, o espaço.

Tudo a emocionava porque assim era ela. Emocional, flutuante e identificava, porque se identificava. E essa era a sua sabedoria. que a mantinha ligada à ficha. Estava viva e essa energia de sentir permitia que se regenerasse, e se recarregasse. Afinal é esse o pulsar. Tudo é perfeito, ela era perfeita, suficiente e essencial, pois tinha escolhido estar viva neste momento, nesta terra, a contribuir com a sua assinatura, a sua partícula divina para o todo.

Era uma vez um dia extraordinário, que lhe mostrou estar viva dentro e fora porque o viveu.

Comentários