Os mundos dentro


Sofia gostava de se esconder. Não que quisesse fugir fosse do que fosse. Sempre que se escondia adiava mais um pouco. Nem sabia bem o porquê ou para quê.

Sempre que se mostrava ao mundo brilhava. Talvez o brilho a encadeasse e gostasse de passar pelos pingos da chuva. Dentro vivia a contradição. Batalhas silenciosas que por vezes a quebravam por fora. Era o seu corpo a dizer, basta. Vamos fazer a paz. Rende-te.


Observava-se e sabia que a contradição era necessária. Da tensão e do conflito sempre nascia qualquer coisa. Era como se precisasse ir lá às profundezas da sua alma. Destruir-se para voltar a construir-se. Da dualidade nasce a síntese, chega-se ao centro. E ela precisava constantemente recordar-se.

Encontrava as suas maiores forças nos momentos mais tortuosos. Vinha aquela força vinda de um espaço sem tempo nem forma.

Na sua mente viviam tantas imagens que lhe criavam mundos infinitos. Flores falantes, cadeiras dançantes, relógios que davam bonbons mágicos a cada vez que os ponteiros se moviam e a levavam para novos lugares. O seu corpo era uma sinfonia composta por uma orquestra de milhares de músicos, cada um tocava um instrumento diferente. Sempre com composições novas de som e cor. E por fora o corpo movia-se ao ritmo tocado dentro. Inaudível aos ouvidos de fora, mas melódicos aos ouvidos de dentro que precisavam sempre desse som para acertar o passo entre o movimento e a quietude.

Talvez Sofia gostasse tanto de ficar a ouvir a sua música e por isso preferisse estar escondida, para que tivesse mais tempo para se escutar. As palavras era o seu maior instrumento para comunicar e expressar os mundos que lhe habitavam dentro.

As raízes a este grande corpo Terra eram profundas e ficava aí escondida a escutá-las. Havia tanto com que se identificava e havia tanto que se queria alhear. Assumir-se com as contradições era também uma contradição para ela. Talvez fosse difícil aceitar as sombras que lhe atormentavam, as suas e as que revia no mundo, que sendo ela o mundo que habitava também lhe pertenciam.

Queria mudar o mundo! Sempre o quis colorir desde a sua terna infância. Foi percebendo que só podia mudar o seu. E esse seria o maior contributo que podia dar a si e ao mundo.  Cada partícula é importante e cada pequena parte tem a magia de se multiplicar e replicar. E estava a fazê-lo. Estava a cumprir-se.

Mas um coração puro para que possa resplandecer precisa de se expor, de se fortalecer.  É um coração trabalhador que está constantemente a dar cor ao preto e ao branco. É um criador mágico que transforma a Dor em Amor e se Doa. Dá com-paixão e co-move-se no mundo, manifestando alegria e amor. Recebe e Dá, porque essa é a dinâmica do movimento,da evolução, em constante criação.

E sempre que adiava, uma parte de si, fechava-se. Talvez precisasse de descanso. O descanso da Guerreira. Mas adiaria ela? Esconder-se-ia ela?  Ou estaria a regenerar-se e a criar no silêncio e na quietude, para que quando o tempo seja o tempo possa manifestar-se?

Enquanto há vida a pulsar, há tempo! Energia essa depende onde está a tua mente, o teu sentir e o teu corpo! Mas estás sempre a tempo. Ele é mágico e podes fazer tudo com ele.



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