Soltar

Solta a tua voz! Era-lhe o pedido.
Como? Perguntava ela.

Não sabia como, a sua mente conjecturava formas e mecanismos de como o poderia fazer, buscando a fórmula específica que pudesse accionar tal coisa. Experimentara o canto, trabalhar a voz, soltando o corpo pelo movimento, dança. Experimentara várias técnicas e ainda assim continuava presa, na sua mente pequena que queria ter o controlo do processo, queria entender e achava que assim poderia solucionar. Mas na verdade, nem sabia bem o quê que deveria soltar. Mas que teria de fazer sair, libertar algo. E quanto mais buscava, mais se fechava, sem o saber. Tinha entrado numa introspecção profunda, num silêncio ensurdecedor. Quanto mais buscava, mais se afastava de si.

Um belo dia, que nada tinha de diferente dos outros, sendo por si só diferente, porque dia nenhum há que se repita repara o quanto se te tinha afastado, não de si, mas dos demais. E aí, dá-se conta que os demais, não são os outros, mas ela mesma. Os outros são ela e ela são os outros, já que o todo é Unidade que lhe habita. Havia então um caminho a fazer, de reencontro a si mesma.

A busca em si faz-te percorrer caminhos onde te perdes, reencontras e voltas a perder, para que se entenda que nada há a buscar, apenas encontrar. Se buscas, procuras, se simplesmente caminhas encontras, porque reparas no caminho que fazes.

E foi essa a luta que teve de largar, deixar de procurar e permitir que suceda. Aqui está, não há lugar nenhum para buscar, apenas encontrar e dar-se conta do que já está e é.

Como podia soltar a voz, se a estava querendo controlar, o tom, o timbre, as palavras, o tempo, o espaço. Tinha de deixar ir, render-se.

Deixar de querer, deixar acontecer, deixar...permitir. Esse era o verdadeiro encontro. Esse é o encontro com a Unidade.


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