Silêncio!



Queria silêncio. Estar só, recolhida no seu recanto, mas a vida lá fora chamava-a. Havia tanto por criar, tantas ideias, pessoas que nem sempre era fácil manter-se sossegada.

Já se sentia pertença de toda a existência, que nada havia por fazer e no entanto um burburinho chamava-a para que explorasse. Tudo o que tocava, tocava-lhe.

Levou toda uma vida a buscar, a querer saber do que o mundo era feita, a querer descobrir o que estava por detrás de tudo, interessava-lhe o profundo. Não que alguma vez lá tivesse chegado, mas chegara um momento em que deixara de procurar. Olhou para dentro de  si e percebeu que aí estava o tesouro. Que era aí que tinha de explorar, de entender. O mistério residia aí. Aí bloqueava-se, aí detinha-se, aí fugia, mas também aí tinha as maiores descobertas. Vivia dentro de um ser que era um verdadeiro mistério, que a surpreendia a cada momento. Quando achava que tinha encontrado algo, depressa se esvanecia como areia que escorre entre os dedos para dar lugar a um novo infinito.

Era como um camaleão que estava sempre a mudar a cor, ainda que aparentemente mantivesse a mesma forma, todas as formas e conceitos estavam sempre em transformação. Era um processo de esvaziamento. As memórias iam-se transformando, ainda que as pessoas, os lugares e objetos conferissem ligações à sua história, ao seu percurso, tudo era movimento.

O indizível, o inexprimível, o impalpável começava a desenhar-lhe um novo mapa de formas sem forma. As palavras custavam-lhe a sair, não porque perdessem a importância, mas porque ganhavam um novo significado. Elas eram mais profundas do que apenas a junção de letras e significado. Elas eram vibração, com ritmo. Elas eram mágicas e tinham a possibilidade de abrir e fechar portas. Elas tinham a magia de dançar. E a voz do silêncio.... essa chegava.

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