A dança da vida e da morte



O dia despertara-a com vontade de dançar. E as palavras estavam prontas para aterrar no papel virtual. E aí seguia, com o entusiasmo de fazer, de pôr ordem e cumprir as tarefas que se tinha proposto para o dia. Sentia-se especialmente viva.

E abrindo as redes sociais era inundada pela notícia de 2 mortes e no momento que escreve recebe a notícia de outra morte, que já era esperada. A verdade é que sabemos que a vida é finita. Estamos cá por um tempo. E damos a vida como garantida, adiamos o que nos faz bem, por não haver o tempo, num ritmo acelerado de compromissos, responsabilidades, numa agitação que nos vai tornando desgastados e enfermos em doses pequenas diariamente.... que às tantas deixas de perceber onde te perdeste, onde desististe de ti, e nem sabes porque corres.

E se as pessoas maiores não nos choca tanto, por já terem caminho percorrido e estarem mais próximo da sua finitude, quando assistimos a uma morte jovem há sempre um embate, como algo que não é tão natural. Sejam quais forem as circunstâncias.

Mas acima de tudo, porque nos choca tanto? Faz-nos olhar para dentro e questionar, como estamos nós a viver a nossa vida? E recordar que finitos somos.

São reflexões importantes de se fazer. Apreciamos a vida? A vida que levamos? Queremos escapar a ela? Onde estamos a morrer diariamente? O que nos move? Que valores e princípios regem os nossos passos? Que sentido damos à nossa existência?

Como gostarias de ser recordada/o? O que estás a fazer por ti? Pedes ajuda quando precisas? Ofereces ajuda? Partilhas e contribuis com os teus talentos. Permites-te SER, sonhar e expressar quem és? Que filtros enevoam a tua autenticidade e brilho?

Quando vamos dormir morremos um pouco e quando despertamos para o novo dia voltamos à vida. E o ciclo da vida e morte está presente em cada dia em nós. Tantas células do nosso corpo morrem, e tantas outras nascem todos os dias. E nem nos damos conta, só com o passar dos anos quando vamos perdendo elasticidade e a máquina começa a mostrar os sinais de velhice é que nos damos conta a olhos vistos da transformação que acontece dentro.

E na verdade estamos a falar da matéria, porque a Vida essa é eterna, move-se apenas em diversos planos, metamorfoseando as formas. A morte apenas anuncia o fim de um ciclo, que dará lugar a outro movimento, ou princípio, como queiramos chamar.

E esta dança de vida e morte está cá para nos acordar, para provocar choques e movimento, para quebrar e soltar o que já não serve e voltar a renascer. E quando a matéria decide ir para outro plano, a vida de quem parte acompanha-nos sempre, nas memórias deixadas, nos momentos partilhados, nas vidas que deu e que continuam a viver e a prolongar-se noutras vidas, na obra deixada.

A vida e a morte pedem ambas para serem celebradas. A vida está dentro da morte e a morte dentro da vida. Tudo faz parte deste eterno movimento. É receber o que vem e se apresenta para a seguir dar, sem nada que conter, e agarrar.


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