À espreita


Podia ser um abraço. talvez seja. E no hipotético abraço espreito-te.

À espreita revejo-te.Na vulnerabilidade da pele que com o toque se desfaz. Na textura rugosa que marca caminhos, cores e na estrutura robusta, firme que se mantém vertical.

A luz trespassa-te e os teus ramos e folhagem desenham pinturas que se refletem na terra, no jogo de luz e sombra. Cantas ao sabor do vento com a tua dança.

E nesse ritmo vou acompanhando-te e espreitando como a energia que se move. A casa que se aspira e lava, o almoço que se faz, o passeio do cachorro, um convite que se recebe para o dia seguinte, o atraso da sessão marcada que vem a calhar, o jantar improvisado que surge com convidados de última hora, as conversas que se estendem pela noite fora... os pontos que se tocam no ponto certo.

E espreito! A ordem que tem sua ordem muito própria, a organicidade do desenrolar da vida em cada instante. A contração e a expansão. O pulsar que impõe o ritmo, a velocidade, a circulação da energia. E seguindo-o tudo se abre com fluidez. Há certeza. Não há espaço para dúvida, para que se questione, nem para a racionalização.

Assistes! Espreitas a vida acontecer, participas, envolves-te. E aí percebes que a energia não se esgota, renova-se num continuum. Não há lugar para o cansaço, para o tédio. Está, estás!

E espreitas as vezes que forem necessárias para recordares mais um pouco.... que não há lugar nenhum onde chegar nem nada a alcançar. Apenas reconhecer que és Uno com o Todo, que és comunhão.

Aprende a morrer para que possas espreitar mais além das identificações enraizadas da tua personalidade e verdades sobre quem és e o que acreditas.

Todos os dias morremos um pouco quando vamos dormir para renascer no dia seguinte quando despertamos. Aprende morrer, a largar a tua pele, os teus conceitos e formatações.

Que possas morrer para ganhar espaço para espreitar novas possibilidades. Põe-te à espreita de TI!

Comentários