As luzes do caminho



Os bichos de carpinteiro acompanhavam-na e faziam-na manter em movimento. Agora acelera, agora desacelera, e agora paramos. Eles iam marcando o compasso em modo arrítmico.

E agora surge a dúvida. Vou ou não vou? Avanço ou paro? Deixa medir os prós e os contras, e fazer contas à vida. O que é o melhor?

E de onde vem essa dúvida, pergunta ela.

Do bicho mau, as "sombras" (ah, ah, ah, ah), sim porque há que dar um nome assim gracioso à coisa. E recordo-me  das imagens e histórias da infância, "se te portas mal ou se não comes o que tens no prato, vem o homem da saca e leva-te". As lindas histórias de encantar, a bruxa que envenena a doce e pura branca de neve, a bruxa má e a doce menina, o príncipe encantado que vem salvar a princesa indefesa.

E depois perguntamo-nos de onde vêm estas coisas que travam e bloqueiam o caminho. Quantas histórias nos foram contadas ao longo da caminho, do certo e errado, do bom e do mau. Foram-nos encaixando conceitos, verdades, símbolos, arquétipos por todas as vias, criando buracos sem fundo.

E vamos destapando esses buracos e identificamos a lixeira, reconhecemos que faz mal e prejudica, mas fica-se ali com a limpar o pó à dita lixeira com a estimação por fazer parte da mobília. E o melhor para que esses buracos e lixeira não se sinta só elas ainda permitem a criação de mais, é uma festa. Sim, porque não posso ignorar o que já sei e me dei conta, então junto ao cardápio a frustação, a revolta por continuar na mesmice e não fazer nada, com a impotência de achar que não se sabe sair do lugar. "Eu só queria a pílula mágica que me tirasse daqui" (diz lá que já não pensaste nisso tantas vezes, que gostarias de uns pozinhos de prilimpimpi que te fizessem acordar no dia seguinte com tudo resolvido e já noutro cenário e vibração?)

Pois é, não há bebé! E pensando bem, qual seria a piada? O caminho que se desenrola, a aventura, as peripécias, as pistas que a vida vai colocando na travessia tornam a coisa bem mais interessante.  Ter isto sempre presente todos os dias, a todo o momento, talvez não seja assim tão fácil, mas well, somos humanos e espernear também faz parte.

E acho piada, chamamos sombras ao que está escondido e que preferíamos não ver... e agora traz lá isso cá para fora, olha, repara, alquimiza, abençoa, integra e coiso e tal. Ok, a minha perceção diz-me sim, se está invisível, não reconhecido, está separado. E continua-se a reforçar a dualidade, a separação, para depois colar tudo, em unidade.

E tanta conversa, porque ela teve uma dúvida! Seriam sombras? Ela preferia chamar-lhe a partir desse momento, as Luzes do caminho. Porque deram à costa, estavam a querem encadeá-la para que travasse. Aquilo é que era uma chuva de impulsos elétricos de pensamentos, um filme colorido. E ela assistia sem pipocas, mas divertida pelo movimento. Até que resolveu desligar o botão e seguir em frente. A decisão de avançar para que o caminho à frente dos seus pés se mostre. E as luzes cumprem uma função, são úteis, permitem também que possa cuidar de como vai avançar, preparar um plano e saber também que ele não é fixo e é ajustável.

O movimento é orgânico, e também ela é movimento e orgânica, e permitir que suceda. É tão mais simples, mas a mente que mente pede-nos que a desformatemos a cada instante, foram tantas as formatações que recebemos que agora é o desmontar do puzzle e das luzes que ofuscam, para que se possa ver.


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