As viagens na minha casa



Sou a moça do presente! Não gosto de fazer grandes planos. tenho dificuldade em planear viagens, compromissos com grande antecedência. Sei lá se quando chegar o momento me vai apetecer, se já não mudei de ideias, se perdeu o sentido. Até mesmo uma festa, um encontro entre amigos que tentam planear, tenho sempre a resposta pronta, de logo decido mais perto da data, logo vejo e empurro com a barriga. Dá-me um certo senso de liberdade poder ser fiel à vontade que o momento me proporcionar :) Claro está, que não posso me dar ao luxo de responder à vida tão a pronto de momento a momento. A vida quotidiana pede-me compromisso, planear, estabelecer disciplinas, organização, no trabalho que faço. Aliás, promovo a disciplina, o compromisso e ordem dentro com os meus clientes para que possam alinhar objetivos, direção e ação. Pode parecer contraditório, como promovo a Ordem e o Compromisso e eu ser um pássaro livre. As linhas subtis são tantas...

E na verdade a Visão está orientada para fora e há que primeiro treinar a visão interior e para isso é necessário cultivar o compromisso disciplinado para que a mente se habitue a escutar o que se passa dentro. Quando a tua voz interna começa a falar aí sim, podes seguir o seu pulsar, na certeza que a prioridade estás a ser TU! Aí já está o compromisso e a vontade bem orientada e sim é necessário haver as disciplinas para continuares a cultivar a tua presença, já que os automatismos são tantos. E tenho em mim a parte livre que segue o fluxo e a outra que treina as disciplinas para me manter dentro e possa escutar com mais Claridade!

Mas, vamos ao tema que aqui me trouxe, Viagens. Final de 2019 traz-me a planificação das viagens de 2020, um curso a iniciar em Janeiro em Sevilha, uma viagem em Janeiro a Budapeste e hoje dia 12 de maio iniciaria mais uma viagem por Marrocos. Quem diria que começaria com tantas viagens no início do ano... e em vésperas de ir pela 3ª vez a Sevilha, a formação presencial é cancelada dadas as condições de contingência de saúde pública e a galope poucos dias depois se impõe o estado de emergência, o confinamento.

É a vida a trocar as voltas, a fazer a sua magia para nos ensinar e tocar outros ritmos e tons. Eu costumo dizer que as viagens são os reencontros com as minhas casas em terras novas por reconhecer e habitar. É a reunião das partes que me habitam, a oportunidade de explorar mais dentro os confortos e desconfortos, de ir mais dentro com o diverso que vou absorvendo.

E desde o dia 13 de março que entrei numa viagem com bilhete VIP oferecido pela vida para assistir e participar no colapso da estrutura de vida conhecida até aqui. Mudar as rotinas para o online, e de repente o mundo tecnológico entra-me pela casa adentro. Não a 100% porque tenho as minhas manias, perdão, um Fófis que me faz circular na rua e passeia-me (ah, ah, ah).

E como numa viagem a uma terra nova, percorremos ruas novas, monumentos históricos, cultura e hábitos diferentes com a curiosidade de experimentar e descobrir. Pois, não sei se foi por casualidade ou causalidade, o que é certo é que comecei a viajar dentro de casa como uma terra nova por explorar e como consequência a permitir-me ser contagiada. A pouco e pouco foram-se instalando novas manias, novos hábitos, os móveis a mudarem de sítio, os lugares a terem novas reutilizações. A alimentação a ser reajustada, o ginásio na sala, o lounge à janela, os quadros a mudarem de sítio, outros a serem pintados. As reciclagens de sapatos, roupas, livros, objetos. A casa mudou, está mais arejada, mais viva... e o interessante é que cada dia há sempre um detalhe novo a ser notado, observado, apreciado. Os objetos mudam de lugar, eles estão vivos e todos os dias me dizem coisas diferentes. Até as plantas começaram a florescer com mais vivacidade... e aquele vaso com terra na janela da cozinha começou a florir com uma espécie de espigas lindíssimas assim do nada, sem que tivesse lá nada semeado. As surpresas que estas chuvas fantásticas trouxeram.

E nestes dois meses já visitei as origens da terra, o cosmos através dos documentários fantásticos da National Geographic, já fui à Coreia do Norte, visitei o futuro (ou será presente?!) através do passado do filme 1984 de George Orwell, andei pela cultura pré-hispânica, pelo Egipto. Bebi palavras do Evangelho de São Mateus, Kafka, Gurdjieff, Bert Hellinger, Agostinho da Silva, Jacobo Grinberg, Jean Yves Leloup, Alejandro Jodorowsky....

Todo o meu corpo viajou para dimensões insondáveis através da música clássica, ópera, Pink Flyod, música medicina, pop, rock, anos 80, chill outs e por tantos novos sons que continuo descobrindo diariamente. E sigo nessa viagem diária que me conduz a cada momento a novos lugares de mim. Atenta para que possa observar as obras de arte que estão dentro e ao meu redor.

Tenho uma bússola mágica que me leva para onde quiser e que me leva mesmo que não lhe coloque um destino... a Imaginação. Afinal o que é real? Será o mundo da imaginação ou este aqui?

Que viagem estás a criar dentro de ti? Sim és criador/a, faît attention! És responsável pelo que estás a criar dentro. A minha viagem leva dentro o potencial humano tolerante, compassivo e cooperativo a colaborar na reconstrução de um mundo fraterno e equitativo, onde há de tudo para todos, onde há tempo livre, não há trabalho, cada um se ocupa com o que o faz feliz com os seus talentos e dons. Colhemos apenas o que precisamos para comer e viver, não há riqueza nem pobreza, há viver em equilíbrio na dança do dar e receber. Há harmonia, materializamos o que precisamos, porque sim, somos criadores manifestadores, comunicamos por telepatia (já o fazemos, mas torna-se a linguagem universal entre todos) e o melhor viajamos por teletransporte (económico, ecológico e atemporal).

E esta minha imaginação, esta minha viagem, tenho a certeza que muita gente já teve acesso a este bilhete VIP e já lá esteve. É um destino que vai passar a ser turístico e levar lá muita gente para que comece, sei lá, a conhecer também e despertar. Onde escolhes vibrar? É tempo de ligar a uma nova corrente, e fazer um upgrade eletromagnético e não, não é ao 5G, é mesmo com os teus fusíveis, com a tua energia. Temos a maior tecnologia dentro do nosso ADN, das nossas células à espera de ser usada e experimentada, só precisamos de desenferrujar os canais e sintonizá-los. Essa é também a viagem dentro da viagem.

Neste momento, talvez parte de mim esteja já a caminho de Marraquexe e a preparar-se para nos próximos dias entrar em Ourzazate e Merzouga, no deserto do Sahara. Vamos ver... porque uma viagem planeada se for para acontecer tem sempre forma de nos levar lá, sem sair do lugar. Que o sabor da aventura me conduza para onde tiver de ir para crescer, com tudo o que implica, subtrair e adicionar.

No outro dia fui conversar comigo e dei por mim sentada entre as flores de uma encosta na serra algarvia. Estava colorida de vermelho, amarelo e verde, estava doce, calorosa e sorridente (legenda da foto :P)

E tu para onde queres viajar hoje?



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