Re-união




Pouco tenho manifestado sobre o Pandemónio que estamos a presenciar, tenho estado a observar atentamente dentro do que chega e me bate à porta através das redes sociais e do que encontro lá fora na vida da matéria, dos encontros, nas relações.

E no colorido das formas e das frases e apoio e do emoji novo da Coragem, reparo lá fora nos desenhos de arco-iris, "Vamos ficar bem". Entendo. Mas isso trouxe-me para a Questão, Como estou eu?" Sim, porque se vamos ficar bem, algo não está bem em mim, cá em casa. Claro que pode ser uma afirmação inclusiva, pois há um "vírus" aí fora a passear-se. Mas a palavra tem força, é energia manifestada e o que estou a dizer eu? Que não estou bem? Hei-de ficar bem?

E observo-me. Eu estou bem. Tenho alegria no coração, saúde,casa, alimento, ocupo-me com o que dá gozo, tenho família, amigos e um cão que me enche a casa. Claro que o movimento interno se movimenta e pode haver dias que sinta mais inspirada do que outros, o que faz parte de estar vivo. Ter movimento, picos.

Poderia aqui insurgir-me, é o meu espaço de expressão e dizer concordo com isto e discordo com aquilo. Afinal tenho opinião e as minhas perceções sobre o que assisto. Prefiro, contudo,  procurar a utilidade do que está à disposição. Como me pode ser útil?

A quarentena enviou-nos para casa num momento religioso, a Quaresma. É interessante olhar para os símbolos, para o arquétipo do Cristo, o seu momento no deserto e de provação para depois morrer e renascer.

Assisto à diversidade de opiniões da corrente e da contracorrente, os prós e contras, à liberdade de expressão e à condenação. Aos vídeos e informação a ser bloqueada por ser "contra" a vigência da saúde pública, assisto à propaganda que propaga o medo. Assisto ao distanciamento e à aproximação, ao humor e sarcasmo e à brincadeira. E acima de tudo observo a grande criatividade que nos assiste a todos para criar e recriar. A quantidade de modelos de máscaras e viseiras "inventadas" num espaço curto de tempo e o aperfeiçoamento constante. O movimento de solidariedade para ajudar a levar alimento a quem necessita, as caixas solidárias espalhadas pelas cidades, os grupos crescentes de apoio e network a emergirem em cada segundo. Webinars, workshops online a surgirem em cada segundo sobre os temas mais variados, gratuitos e disponíveis para todos. São pipocas a saltar por todo o lado.

Tanta abundância... por onde escolher, o que escolher, como selecionar? E tanto ruído também! A necessidade de gerar movimento, atividade para que assim ocupado, não tenha de lidar com o meu próprio desconforto e incómodo. Vamos lá todos ocupar-nos!

E a utilidade essa é sempre subjetiva. De acordo com a necessidade de cada um, com o seu nível de consciência e de perceção.

A mim foi-me útil dar um passo atrás, distanciar-me para que pudesse observar melhor. Sentir o ruído fora, para poder contactar com o meu próprio ruído. Curiosamente foi o tempo que publiquei menos nas redes. Permiti-me acolher ao chamado, parar, aquietar.

Assisto ao circo de diversidades e não me alheio, porque tudo o que está fora me habita. Tu és eu e eu sou tu. Sou responsável. E tenho o comando de como quero gerir dentro o que acontece fora.

Não tomo partidos, reflito sobre ambos os lados. Se partidos tomasse estaria pois a reforçar a separatividade. Não a nego, porque existe neste mundo dual, mas procuro a síntese, a reunião. Todos queremos o mesmo, ainda que busquemos linhas e caminhos diferentes para encontrar. Queremos recordar de onde vimos, do que somos feitos e o propósito. E têm sido tantas as propostas que nos têm colocado ao longo dos tempos com a religião, a ciência. Talvez estejamos mais perto, talvez estejamos mais longe.

O caminho do meio, encontro-o no centro de mim enquanto participante e observadora. E pelo caminho vou encontrando mensageiros, canais que me testam, que colaboram com a minha visão. E acima de tudo que me fazem manter fiel ao caminho que decido percorrer. Posso ir só, mas só aparentemente, porque quando caminho cheia de mim, vou sempre bem acompanhada de tantos e tanto. "O essencial é invisível aos olhos", já dizia o outro, mas quando se presta atenção começa a tornar-se bem visível.

Escolho a re-união da Vida! Incluo todas as partes, concilio-as, não há nada por que lutar, apenas amar. E fazer a paz é desenvolver a empatia, a compaixão pelo outro, por tudo, co-mover-nos nesse sentido, em colaboração, em apoio, desejando o bem, honestamente sentindo-o em todos os meus átomos, células, tecidos, em todo o meu ser. Sou energia, és energia.. Ondas que se propagam sem espaço nem tempo a todo o instante.

Eu sou a cura, tu és a cura. Pró-cura dentro a fórmula mágica com que nasceste.


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