A Loucura de Ser Criança



Dia 1, número um. Gosto especialmente deste número. Marca um princípio, um arranque, a individuação também. E cada dia é um dia especial, único.

E dizem que 1 de junho é o dia da Criança. Das pequenas e das grandes. Ora e o dia 1 foi para  ela momento de cuidar da criança de 4 patas, de tosquiá-la, foi dia de retomar o ginásio em grupo presencial, foi dia de comprar os rolos TNT para as sessões de reiki xamânico e de trabalho na terra com o avô fogo em grupo e festa com piquenique pela noite fora com os meninos à volta da fogueira pela noite fora.

Tantos inícios, tanta coisa nova. Que alegria e entusiasmo! E a criança sábia regozijava-se com a magia, com a reunião, com o compromisso de cada um em cuidar e fazer o caminho do Adulto autónomo, responsável por si, em evoluir em consciência, curando a criança ferida para que pudesse florescer mais acompanhado da sua criança grande.

Ela sabia que a data do calendário marcava o dia da criança, mas viveu todo o dia sem se recordar de tal evento. E nessa ignorância viveu o dia tão plenamente.


E juntando os encontros, as conversas, as narrativas que vinham sabiamente ao seu encontro o tema da Criança estava muito presente. A criança ferida revela-se no Adulto infantilizado que continua a reclamar, a pedir colo, demitindo-se da responsabilidade de cuidar de si mesmo. E como tão inconscientemente vão atraindo episódios atrás de episódios que repetem os mesmos padrões. Os outros que me querem controlar, ou eu quero controlar a vida dos outros porque não tenho Autoridade sobre a minha própria vida. As relações tóxicas que mantenho, por serem o porto seguro onde sinto que me cuidam e a frustração por não ser feliz lá, mas não querer sair, porque ai, o que será de mim sem o pai ou mãe que me orienta... e ai que não posso mostrar ou expressar que sou, porque vou ser rejeitado e preciso que me aceitem, e sou quem sou posso perder o conforto a que já estou acostumado... e tantas as ilusões que vamos alimentando, desrespeitando totalmente o nosso ser que se vai encolhendo e enchendo de tensões, fechando e fechando a sua alegria de ser e estar.

E acham que a Criança alegre, viva com vontade de se expressar é a que têm de matar para serem  adultos sérios e considerados e assim respeitados pelo sistema social. As visões distorcidas que vamos criando. E a criança que têm de matar é a infantil, a imatura que acha que precisa de ser validada e aprovada pelos outros e que se passa continuamente atestados de incapacidade.

A Criança Sábia que temos de manter viva em nós é aquela espontânea que avança para vida com a força de manifestar e de expressar. Que tem gozo por experimentar, e cai e levanta-se e ri de si mesma, que é livre e voa espalhando a sua magia, tendo dentro dela a maturidade do adulto que se sabe cuidar, que desempenha o papel de mãe e pai de si mesma. É autor/a da sua vida, cria e é responsável por todas as suas decisões. Responde à vida, aprende e ensina e contagia.

E esse é também um caminho, pois são tantas as deformações e formatações que carregamos, e na caminhada com o que vamos atraindo vamo-nos dando conta desses pesos e tendo a oportunidade de os desfazer, para caminhar mais leves.

E ela, olhava para trás e via-se tão séria, tão rígida, ainda que o sorriso e a brincadeira estivessem presentes, elas tinham de ter hora marcada e tantas separações que fazia. A mulher profissional era uma coisa, e a mulher com os amigos era outra, não havia cá misturas, tinha de cumprir o protocolo da formalidade e do correto. E hoje com mais 15/ 20 anos em cima sorri e apercebe-se de tanto peso que já foi largando, que hoje reúne e se ocupa cada vez menos com o correto, com o que deve ser e respeita muito mais o seu próprio ritmo. Há quem lhe chame louca, há quem lhe pergunte se não tem vergonha de expor os seus momentos. Não é que por momentos ainda não lhe faça comichão apresentar-se da forma como se apresenta, mas ela não pensa, faz e mesmo como o frio no estômago, o que a seguir é o gozo e o divertimento por o fazer. "Gostas de provocar", dizem-lhe outros... talvez, por vezes isso também ocorra, consciente ou inconscientemente, mas acima de tudo, expressar a sua autenticidade é o que mais lhe importa.

E o interessante, reparava ela, talvez agora com mais atenção é que sempre que expunha os seus momentos de loucura, mais contagiava o sorriso, a brincadeira e que o outro ganhasse coragem para o fazer também. Porque a Criança adulta pode e deve sempre brincar e divertir-me com tudo o que faz.


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