As provações


São as provações que te fazem crescer e te fazem conhecer mais partes de ti. E o que são provações?
Provas em ação que a vida te provoca para que te mexas e saias do lugar. E quanto mais sais, mais conforto encontras em novos lugares e pessoas. A casa passa a ser em qualquer lugar.

É claro que antes de ir, és inundada pelos filmes mentais com todo o tipo de cenários a querem travar-te e a passarem-te atestados de incompetência e catástrofe. Sabes que para mudar é preciso sair do lugar conhecido, e queres mudar, ficando no mesmo sítio. Esperas milagrosamente acordar um dia e que tudo mude, de preferência com tudo em perfeita ordem e harmonia.

Ela ficara presa 14 anos ao registo da norma de ter o trabalho, o carro, a casa, o relacionamento amoroso e ir de férias todos os anos para um sítio novo e regressar com tudo no lugar e seguir funcionando com tudo no sítio, as rotinas, os cursinhos, os convívios e tudo e tudo.

Até que um belo dia, a vida resolve desarrumá-la de vez e desde aí nunca mais parou. As viagens começaram a surgir, os desafios de ter de ir, de confiar no suporte, de se vulnerabilizar. De se assumir a 100% exploradora de si mesma. Desafiar crenças, moralismos, formas de fazer, de estar. As provas em ação da vida para que aprendesse, para que soltasse as amarras que nem sabia que tinha.

E quanto mais amarras soltava, mais leve caminhava, para depois descobrir mais umas quantas e seguia observando com mais ternura e contemplação pela sua história a fazer o amor consigo.

E se havia momentos em que o total escuro se apresentava deixava-se estar lá também a contemplá-lo. Quando se demorava muito também lhe dava comichão, pois queria sair rápido dali para continuar a avançar para a próxima aventura. Mas o ritmo não era ela que o impunha, apenas tinha de o seguir. E quando queria acelerar, vinha a resistência e travava-se. Seja feita a sua vontade e não a dela.

E sabiamente a vida ditava os momentos de avanço e de quietude, para que pudesse descansar e contemplar o caminho feito e desfrutar da sua presença. Eram os momentos de se cuidar para que se pudesse preparar para o movimento seguinte.

Por vezes achamos que temos livre arbítrio para decidir o que queremos para a vida. E durante algum tempo ela achou que era senhora e dona da sua vida para lhe determinar um rumo. Mas até aqui o caminho tem-lhe mostrado que não manda nada. A única escolha é decidir se quer dizer sim ao que a vida lhe propõe no momento ou se prefere adiar. E quando diz sim momento a momento às propostas que a vida vai fazendo tudo é mais fluido, ainda que possa não entender nada com a sua mente intelectual do que está acontecer. Não é preciso.

E simplificar é seguir o ritmo proposto, ir reunindo as sincronicidades e as causalidades desta bela música que o Universo toca, no seu sentido de humor muito próprio.

A foto que ilustra o texto foi tirada em 2018 em Jalcomulco, México. Para chegar ao spot da foto, foi um caminho de muitas provações, subidas, descidas em caminhos de terra batida cheios de pedras e buracos. Momentos houve em que achávamos que o carro não chegava e o caminho era tão estreito que mesmo que voltar para trás não era opção. E tantas vezes os caminhos apresentados na vida são assim, não há como voltar atrás ou desistir. A única opção é continuar a avançar, umas vezes mais rápido, outras bem devagar. E valeu tanto a pena chegar e contemplar a natureza grandiosa daquele lugar.

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