De pernas para o ar




Tinha o plano para o dia. Mas o dia resolvera-lhe trocar as voltas.
O despertador traía-lhe e quando acordou estava apenas com 30 minutos para se despachar para chegar a horas ao encontro marcado. Merda!

Ainda mal se tinha levantado e já começava a correr. E a vontade que tinha para correr era nenhuma. Olha novamente para o telemóvel e vê que tem uma mensagem a dizer, “estou atrasada, não consigo estar à hora marcada”. Respirou de alívio! E aproveitara a oportunidade para reajustar o horário. 

E todo o dia se virou de pernas para o ar. E de repente as tarefas que tinha para fazer ganharam um novo ritmo e numa organicidade tudo se compôs numa fluidez extraordinária. Apesar de feriado tinha  trabalho para fazer e uma entrevista telefónica e deliciada estava. Aprendia mais um pouco sobre a natureza, sobre as marés, a Ria Formosa e as lides da profissão de mariscador. E como gostava de aprender e das histórias das gentes, da paixão pela natureza. Tudo a inspirava. E de sorriso no rosto com a informação recolhida inspirava-se para fazer também o seu trabalho. 

E pelo meio mais uma chamada e um reencontro de outros tempos, as sincronicidades da vida. A celebração ao final do dia depois do trabalho com a alegria de matar as saudades, as gargalhadas e as lágrimas. Assim são as ligações de apoiar e cuidar. 

E no dia seguinte tinha um piquenique e nada tinha preparado para tal e na verdade não lhe apetecia, mas o compromisso já estava firmado. Quando deu por ela, saía-lhe pela boca que não estava a sentir vontade e propôs alteração ao encontro. E toca a pôr movimento no grupo que se voltou do avesso e aderiu à proposta.

Na verdade sabia que a vida era movimento e tudo se alterava a cada instante e via-se como observadora, participante e agente ativa do mesmo. Estava a escutar a sua vontade e a pô-la em prática. Mais importante do que cumprir compromissos era estar atenta ao movimento interno, ao que  ele lhe pedia e ajustar o exterior à sua voz.

Sim, tudo se virava do avesso, mas com uma harmonia fantástica, numa ordem perfeita, como se tudo se alinhasse como tinha de ser. Nada entendia, nem precisava de entender, apenas sentir.

Estava a aprender a flutuar nas águas, que o movimento a embalasse e guiasse nas marés da vida, sempre conetada ao seu centro. O centro do sentir e do coração.

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