É preciso matar sonhos!



Pôs-se à escuta. E as divagações que lhe surgiam faziam-na refletir. Olhar para o percurso percorrido, tantas aventuras, tantas aprendizagens e como continua a aprender com o que foi e como isso se traduz em tanto do que é e no tanto que ainda há por explorar. Que maravilha é a Vida que tudo contém.

Via-se como sonhadora. O sonho comandava a vida. E no meio das suas reflexões apercebeu-se que não era só sonhar e acreditar nos sonhos, mas também era preciso aprender a matá-los.

Matar sonhos?! Como?

Estas palavras saíam-lhe da boca com muita propriedade.

Há sonhos que carregamos que não nos pertencem. Alicerçados nas ilusões de um sistema de crenças imposto pela sociedade, cultura, família. Mas enquanto são inconscientes não nos damos conta e seguimos  "lutando"por algo que na realidade, do fundo do nosso ser não queremos.  E damo-nos conta quando o realizamos e damo-nos conta que não nos satisfaz ou no próprio percurso à medida que avançamos para o dito sonho ele parece fugir de nós à espera que o reformulemos.

Ela tinha o sonho de ser advogada, deu passos nesse sentido, fez a sua parte e quando chegou o momento, não reunia os recursos financeiros para prosseguir. E pouco depois chega-lhe a informação sobre o curso, o currículo, a matéria e percebeu que afinal aquele não era um sonho real. Mas uma ilusão criada a partir das vivências de infância. A convivência no meio dos advogados e resoluções familiares, a batalha pelas injustiças, faziam-na ter um sentido de justiça muito forte. Mas essa história não era sua, era da sua família e sem se dar conta, por amor queria salvá-los.

E a história repete-se e repercute-se no inconsciente pessoal e coletivo de um sistema social patriarcal. Há ainda nas geração jovem dos 30 /40 anos o sonho generalizado de constituir família, comprar a casa, ter filhos. E tantas vezes é um sonho não questionado, qual a raiz desse sonho?

A referência de "felicidade", "sucesso", "realização" advém da concretização desse dito sonho, porque os pais assim procederam, os avós e o sistema social assim reproduz. Mas será mesmo essa a real vontade do sonhador/a que sonha? E por amor, porque queremos sentir que pertencemos, que nos aceitam e nos amam vamos reproduzir esses mesmos sonhos. E que se por algum motivo a vida demora a trazer a dada concretização, o sonhador/a começa a frustrar-se, a sentir que o tempo lhe foge das mãos, que a vida avança e que não se está a cumprir.

Há sonhos que vêm para que os possamos reformulá-los e atualizá-los. Para que os aprofundemos e para continuar a sonhar sonhos novos.

Eu costumo dizer sonha, traça uma direção e caminha. E mais do que chegar aproveita e desfruta do caminho. Não importa a chegada, mas a partida. Faz a tua parte, observa e larga. Para que possas estar aberto/a às atualizações do mesmo. Agostinho da Silva dizia "Não faças planos para a vida, que podes estragar os planos que a vida tem para ti".Ou seja, mantém-te aberto, disponível ao "briefing" que a vida tem para te entregar. E usa toda a matéria prima que vem ter contigo para aprender e crescer em conhecimento sobre ti mesmo, para te explorares e construíres em todo o instante. Sê explorador/a de ti mesmo/a.

Só assim te vais dando conta de que matéria é feita os teus sonhos e os vais refinando com a Consciência e sabedoria interna que vais ganhando à medida que te reacordas da tua essência sagrada - és Vida pura em potência. E o sonho deixa de precisar ser sonhado e passa a ser a vida em si mesma.






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