Eu denuncio-me



Denúnica. De-nunciar. Prefixo de origem latina de, movimento de cima para baixo, separação e anunciar, revelar.

Gosto de observar as minhas narrativas e as do que me estão próximos. Os movimentos e a energia que circula na esfera íntima. São os espelhos e os reflexos que me denunciam. E umas vezes é mais agradável de receber outras nem tanto. E na verdade quem faz este escrutínio é a personalidazinha que gosta de catalogar. E para que se revele este movimento  há que observar de cima, separar e desidentificar com as narrativas que sucedem.

E observo as notícias lá fora e os movimentos gerados, "contra o racismo". Não me faz sentido. Raça há só uma e eu faço parte dela. Fala-se em etnias, que isto há que criar palavras e rótulos para definir as diferentes cores e traços do ser humano que dada a sua proveniência e adaptação ao meio vai adquirindo diversos tons de pele, textura. A circulação das gentes e o entrosamento genético gera ainda maior diversidade, riqueza e beleza  no ser humano, e na verdade se formos procurar bem nas raízes da nossa linhagem temos um pouco de cada parte do mundo e de cada cor e etnia. Que já fomos nómadas e já circulámos por toda a parte.

Será que esquecemos as nossas origens?

Somos feitos da mesma matéria. E sim... estamos um pouco esquecidos de quem somos. Vem um convite de Confronto com a Vida com esta pandemia para que possamos recordar a casa que habitamos, a casa dentro, a casa Terra e agora chega-nos o convite para olharmos diretamente para o que "do que somos feitos". Será essa verdadeira denúncia.

Olhar de cima, sentir o que mexe. Onde estamos separados, onde nos separámos? Ah, e tal vamos todos ficar em casa para nos protegermos a nós e aos outros. O princípio da Vida é o mais importante. Será?!  Ou virá de um princípio egóico e instintivo de sobrevivência, de protejam-se lá todos para garantir que eu fico protegido? As barreiras são muito sublimes.

Se estou a fazer a minha parte porque tenho de "criticar", "condenar" o outro que tem uma visão diferente?  Há um autoritarismo muito subtil também a emergir - a fação da lei, a autoridade do Governo, que aplica as regras a serem seguidas; a fação dos ativistas que se insurgem com outra uma opinião contra-corrente e depois há os espetadores de bancada que escolhem o papel de juízes do certo e errado. Como se não houvesse lugar para coexistir as diversas visões em simultâneo e dentro da ordem a ser seguida pela legislação de momento, cada ser humano ser livre de se expressar de acordo com o seu sentir.

Não há certo nem errado, há incerteza. E é isso que incomoda. A consciência mais declarada e óbvia do movimento da vida, MUDANÇA.

E se há mal estar com a diferença da cor, do branco em relação ao negro? Talvez seja para marcar uma distinção, não sei, estou a divagar.... a distinção que fazemos uns com os outros e não, não é pela cor. Fazemos tantas distinções por tanta coisa, o pobre do rico, o licenciado e o sem habilitações, o doutor e o sem abrigo...

Será que falamos mesmo de pigmentação da pele?

Ou de questões bem mais profundas de separação entre humanos e mais profundo, da separação que vivemos dentro de nós? Das partes que não conseguimos amar, das raivas que guardamos pela mãe, o pai, o irmão, a avó, o tio por não nos ter visto, e não ter preenchido as necessidades da criança e que agora te tornou no adulto ferido à procura de saciar o que faltou através das ilusões de sucesso reconhecimento, riqueza e amores. E como não me vejo, sigo em busca fora de mim e descarrego as frustrações no mundo lá fora... seguindo no papel da vítima /submisso ou dominadora/ controlador.

E questiono-me através dos reflexos, porque a origem da Onda vem do Mar. Onde me toca? Onde preciso fazer a paz comigo e com a raça humana. Onde separo? Onde me dissocio? Onde comparo? Onde não respeito ainda a individualidade de cada um?

Porque de mim fala e a mim me denuncia.

E enquanto não me reconcilio ainda, peço perdão. Perdoa-me irmão/ irmã por não te conseguir ver e aceitar como igual, na tua individualidade e unicidade especial. E agradeço por me permitires ver-me através de ti.

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