Eu venho oferecer o meu coração


“Quem disse que tudo está perdido?
Eu venho oferecer o meu coração.
Tanto sangue que levou o rio
Eu venho oferecer o meu coração
Não será tão fácil, já sei que passa.
Não será tão simples como pensava
Como abrir o peito e sacar a alma,
Uma colherada de amor
Lua dos pobres sempre aberta
Eu venho oferecer o meu coração
Como um documento inalterável
Eu venho oferecer o meu coração
E unirei as pontas de um mesmo laço,
E me irei tranquila, me irei devagar
E te darei tudo, e me darás algo
Algo que me alivie um pouco mais
Quando não haja ninguém perto ou longe
Eu venho a oferecer o meu coração
Quando os satélites não alcancem
Eu venho oferecer o meu coração
E falo de países e de esperanças
Falo pela vida, falo pelo nada
Falo de mudar esta nossa casa,
De mudá-la por mudar, não mais
Quem disse que tudo está perdido?
Eu venho oferecer o meu coração "
Recebera este bálsamo para fechar o dia. O dia apresentara-se longo, cheio de tanta coisa. Receber formação, dar formação. Cuidar de se manter nutrida com o alimento que o corpo lhe pedia, o querer parar para descansar e aproveitar o recebido, mas o ritmo lá fora apresenta-lhe movimento, os telefonemas, o cuidar do cachorro, responder aos desafios de momento que lhe pediam atenção e o tempo a passar... e ainda tantas tarefas pela frente para serem executadas. Definir as prioridades de qual seria a primeira a ser feita. O corpo dava sinais de cansaço, a pedir descanso... e escutando-o respondia-lhe faremos a prioritária e depois logo se vê. Quando sentires que é para parar páras. Queria tempo para sentir-se, silenciar e desfrutar do tanto que havia recolhido. Mas o tempo sempre arranjava formas de a surpreender. Ora encolhia ora esticava-se, não à sua vontade, mas no seu ritmo muito próprio.
E de repente quando dera por si todas a tarefa prioritária estava feita e recebera um mimo, uma música, a música que descrevia o seu dia. Perante tudo o que a vida apresenta "oferece o teu coração", não que conseguisse ter essa presença em todo o instante vivido, mas agora que finalmente parava para escutar a melodia era assim que se sentia, rendida. E deliciada por querer continuar a oferecê-lo e como estranhamente a sua energia se renovava. "Quem disse que tudo está perdido?" Quantas vezes pensamos que não conseguimos mais, não dá para mais e vem uma força, uma vontade de continuar, vinda de um lugar desconhecido e que nos mostra que há tanto por conhecer e explorar.
E os mensageiros de caminho faziam questão de lhe dar as mensagens precisas nos momentos precisos. E falavam dela as mensagens, falavam da sua fé na vida, nas pessoas, no mundo. Sabia que podia não ser fácil e simples, mas ainda assim, sabia ser possível. A ela restava-lhe oferecer o seu coração, abrir para receber o que viesse, os embates, os choques, as dificuldades... poderia não ser fácil e simples, mas enquanto tivesse coração, continuaria a oferecê-lo, fiel à sua essência.

E o outro dizia-lhe, mas devias fazer mais por, e ela respondia-lhe, ofereço o que tenho, não posso carregar os pesos que não me pertencem, apenas oferecer a minha parte. Estou para oferecer o que tenho, não para saciar a fome ou preencher os buracos dos demais. Se te dou alimento ficas adicto à fonte e sempre que precisares vens cá comer e se me for, morrerás de fome, porque não saberás pescar o teu próprio alimento. Devolverei-te a ti mesmo as vezes que precisares para te recordares, se caíres e chamares por mim, estarei para te ajudar a levantar e sacudir o pó e dizer-te "tens a força, consegues, escolheste a tua própria missão e desafios para te cumprires para te superares, aplaudirei cada sucesso teu, e sempre que pedires apoio estarei para te recordar que és capaz e a torcer por ti. E se isso significa dizer-te o não, dar-te o pontapé no cu, assim o farei. Estou a oferecer o meu coração para que te cumpras, ainda que possas achar que estou a fazer o oposto. Nada está perdido, enquanto houver pulsar no coração. Não importa que não reconheças ou não recebas o meu coração, eu continuarei a oferecê-lo. Não preciso de nada em troca, nem um obrigada. Ofereço o que tenho, porque é tudo o que tenho para dar.

E a música vinha-lhe confirmar esse seu sentir, se dava o que tinha, também recebia o que vinha. E era tão simples e tão grandioso.

O cansaço esse já tinha desaparecido e descansava enquanto as palavras escorriam e a música a embalava. Estava presente no presente.


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