Caminhante



Aqui estou passeando-me sempre.... não que tenha consciência disso a todo o instante. Mas assisto-me. Agora deixa-me comer um gelado, apetece-me tanto um doce... gracioso TPM que me denuncia, nesta necessidade de ser doce e me adoçar, num colo de ternura e sossego. E agora salta... e agora dorme. E agora relaxa e agora limpa a casa toda de cima abaixo e baixo, acima. Agora toca e canta. Agora deita-te a apanhar sol, agora escreve. E assim me vou passeando nestas ondas que me orientam e desorientam... que me calam ou me fazem estrabuchar.

E se momentos houve que me gladiava com estes movimentos, pois claro que queria controlar as ditas ondas, talvez para não levantar ondas, agora permito cada vez mais que me atravessem, que me incomodem, que me despenteiem, que se acomodem, que me revolucionem, que me abram, que me penetrem. 

Sempre que permito que o sentir me penetre de peito aberto, assisto à dança interna e externa que sucede. Já não há nada para controlar, lugar nenhum para onde ir, tudo cai por terra, fica apenas o ser, o estar. Parece que é fácil e na teoria, a mente repete estes conceitos, de respira e está no presente... mas são tantos os mecanismos de distração, que não é algo permanentemente instalado, é um treino, que de tanto treinado, começa a instalar-se em todo o ser. Como um novo programa/ software que passa a correr no teu sistema, juntamente com o outro velho, que a pouco e pouco se vai diluindo e fazendo um reset.

O novo precisa de tempo para se acomodar, até que o velho possa diluir-se por completo, e desapegar-se. E se por instantes o novo, tranquilo se felicita e celebra por estar neste novo corpo, o velho teima em estrabuchar e dar os seus últimos saltos de imposição e de marcar presença e espaço. Vamos lá voltar ao conhecido... mas já é tarde demais... é preciso terminar de soltar, deixar ir e agradecer a função cumprida. Assistir ao passeio, à dança sem querer agarrar, nem prender. 

É assistir à sequência de paisagens que o passeio da vida e nos caminhos vai sendo mostrada e seguir, avançando na vida, no caminho.

E à medida que avanço o espaço e o tempo é mais preenchido de silêncio e a imagem que me acompanha é sempre do eremita. A luz que acompanha e o bastão que vai marcando o ritmo e o caminhar. E ainda que aparentemente caminhe só, sigo tão acompanhada de Mundo, e desta grande família que é o cosmos, a humanidade e a existência. Grande Espírito Sou, Somos.

Caminhante!



 

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