As raízes chamam-nos





Quando resolves terminar  a noite a ver um filme de beber as lágrimas "Lion- uma jornada para casa". Um retrato baseado em factos reais, das crianças perdidas na Índia e que são adoptadas. A história de de Saru que reencontra a sua família biológia 25 anos depois.

As raízes chamam-nos... leve o tempo que levar, as memórias começam a despertar-nos e a chamar para que as possamos ver e incluir.

A generosidade e o amor de quem escolhe adoptar e assumir o papel de cuidador com respeito pela história e biologia de quem escolhe cuidar. Todos crescem na consciência de que os filhos são filhos do mundo e para a vida. Há uma linhagem de sangue, a doação de vida que é dada por quem gera até que  o ciclo de nascimento se dê e... tanto que escapa à questão de serem os progenitores a cuidar... tantas as circunstâncias que a vida pode criar... para que o processo de crescimento se dê para o bem maior de todos, ainda que possa parecer atípico, aos olhos da mente pequena.

O percurso que se percorre de volta a casa  mais do que uma busca é um encontro, um reencontro. As lágrimas que se vão soltando vão abrindo e fertilizando o caminho, vão soltando cargas, vão lavando os olhos para que possam vislumbrar com maior clareza.

A fonte de vida começa na água... dizem, e aí ficam registadas as memórias que correm pelos rios até ao mar.

A foto que ilustra este texto é de Monchique, curiosamente, ou não, fala das minhas raízes, paternas. Há histórias que desconheço que me correm nas veias, memórias que me levam a este local e me fazem sentir casa, sem que nunca tivesse aí vivido. E essa é a parte incrível das nossas raízes... as nossas células reconhecem locais, terra, cheiros, sabores, sons... ainda que seja a primeira vez que pisas aquela terra.

E as raízes chamam-nos sempre a revisitar os lugares onde já estivemos.... o legado e a herança familiar é imensa. E reunir a família em lugares distintos é incluir os fragmentos perdidos, as pontas soltas. É integrar para que possas seguir mais inteiro.

As lágrimas choradas foram de alegria, de ressonância, empatia... os filmes tocam-nos em partes profundas, que não temos como saber, e pouco importa, apenas permitir que as emoções possam ser escoadas e abrir-nos mais um pouco. 

Para que com água das nossas lágrimas possamos regar mais a nossa semente e ela possa crescer mais nutrida.



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