Que a voz me valha... a minha!




Escutava... e observava a conversa que lhe chegava aos ouvidos. Nada é por acaso. Ficou-lhe esta frase de alguns anos atrás do livro Profecia Celestina "não há ninguém que passe pela tua vida que não tenha uma mensagem para te entregar. Cabe-te a ti estar disponível para recebê-la ou não."  E desde então está  mais atenta, e tenta também observar mais, sentir-se mais... no que se passa dentro e fora de si.

Às vezes é a mensagem que toca e vem tocar diretamente no que é precisa, as palavras ditas, outras é a forma, o contexto, a vibe com que é disparada a coisa... outras ainda, vão para além disso tudo, vêm despertar memórias de temas completamente distintos do que aqueles que estão a  ser abordados. 

A forma como respondemos, como recebemos o que está a ser exposto também nos denuncia e revela. E como é que uma conversa sobre a receita de bolo de banana me pode transportar para outro continente e para um workshop de teatro e como me senti em casa com um grupo de pessoas e me permiti cantar, brincar e expressar numa língua que dominava tão pouco na altura. Interessante a mente humana.... e o que ela realmente escuta.

E ela falava-me de onde escondes as tuas dores, onde não és coerente contigo... e ela recebia essa informação com admiração, questionando-se em simultâneo. Será?! Gostava de se pôr em causa para que pudesse abrir para novas respostas.

Há sempre uma parte de nós que resiste ao novo, que quer controlar, que quer dominar. Eu sei, eu conheço-me. E há medida que escutava o que chegava ao seu encontro ia sentindo a tal resistência, de "mas eu não sinto ou não me vejo assim como descreves", e respirava e abria um pouco mais, para que pudesse entender o outro ponto de vista e em simultâneo verificar que partes de si estariam a resistir.

São tantos os pontos cegos... e às tantas vem a resposta de agradeço, do que me dizes identifico outra coisa em mim e obrigada por um tema, me ter levado a outro. E quando se destapa um e depois as fichas continuam a cair... e percebes a grande bênção e oportunidade de cada encontro.

Quando nada esperas... abre-se a possibilidade para receber e para te fortaleceres em ti e no teu caminho.

Sim porque quando há dúvida há brechas... e nessas brechas podem entrar medo, insegurança, espaço para que interferências ocorram. São os testes, os bem-vindos dos testes da Vida.

E se ontem me sentia tão bem na minha pele por estar cada vez mais perto de mim, em mim, mais disciplinada, coerente e consistente, sentindo a minha estrutura firme... eis que hoje a pergunta é... Tens a Certeza?! E veio de fora. E que engraçado perceber...se a pergunta vem, afinações e reajustes são necessários.... nem que seja o SIM à tua Certeza para que se reafirme e se afiance.

No outro dia... numa conversa familiar, abertamente falo sobre as novas possibilidades que se estão a abrir e a minha alegria por poder explorá-las e vem de repente a crítica, o condicionamento que poderia não ser o melhor, que poderia ser perigoso... e mais uma vez, abrindo agradeci por me estarem a apresentar dados novos e que isso servia para prestar atenção e cuidado quando fosse caminhar, e que iria avançar. E o facto de perceberem que a minha vontade continuava firme, continuaram a apresentar mais argumentos e a julgarem a minha posição. E aí senti-me "atacada", a forma como recebi... e respondi "a vida é minha, os medos são vossos e o facto de querer ir é porque quero conhecer, tenho esse direito e vontade e vou, se esse caminho se apresentar", a minha voz alterou-se, subiu o tom e o que ressoou cá dentro foi, posso não ter o apoio que gostaria, mas foda-se esta é a minha  e se tiver de cair, pois que caia, mas quero experimentar. 

Que partes de mim ainda se sentem condicionadas a fazer o que tem vontade? Onde ainda há vozes que me apontam os dedos, sendo essas as vozes que tenho também dentro de mim e posso não lhe dar ouvidos... onde a minha segurança ainda depende da validação externa. E o ter levantado a voz fez-me ouvir... e os outros de alguma forma silenciaram.

E se a minha Voz ainda precisa que venham os de fora opinar sobre o que devia ou não fazer para que eu possa olhar e validar-me... que venha. Que possa firmar as minhas raízes nesta Terra com o meu Valor. O valor que sai de mim... ainda que possa ser a única a escutar-me.... pouco importa. EU OUÇO-ME!

E nada tem de egoísta... fomos ensinados a incluir o outro, ah e tal estamos em sociedade e a minha liberdade acaba onde começa a do outro. Really? Não concordo de todo! Em cada ser vive um mundo, completamente distinto do meu... porque me haveria de reger pelos conceitos e miopia do outro, se nada tem a ver com a minha? E não querendo dizer com isto que vivamos numa selva, a morder-nos e a atacar-nos uns aos outros (quer dizer... tenho as minhas dúvidas ahhhh... a um nível muito subtil this shit happens 😳😕)

Resumindo, é a mim que tenho de incluir com todos os defeitos e qualidades, com toda a complexidade, incoerências, inconsistências e imperfeições... E aceitar exatamente o lugar onde estou... claro que posso sempre aperfeiçoar e melhorar.... mas a a melhoria começa quando começo a amar a minha história, de onde vim, onde estou e para onde vou.... nesta impermanência que é viver.


Sou Existência. Nela me misturo, nela me envolvo, nela sinto dor e prazer.... nela dissocio-me e associo-me, tenho dependências e vícios... tenho libertações, tenho liberdade, sou saudável e também doente. E nesta dança aprendo e desaprendo... transformo e transformo-me... 

E recomeço na minha voz. Recomeço neste instante de um lugar mais solto... porque soltei as palavras que denunciam o que vai dentro e consigo neste momento alcançar e ampliei um pouco mais a minha visão e sentir.

Pront@ para recomeçar?





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