Permito-me ser tocada


 

A coragem de ser vulnerável é permitir-se olhar para o que se sente exatamente como é. Subtrair qualquer julgamento sobre o que se está a sentir. 

Dei-me conta que há emoções em que me demoro pouco, dói estar lá durante algum tempo, então parte de mim quer escapar de ficar lá. Não que esta consciência seja nova... mas ao longo da jornada vão-se aprofundando os passos para dentro de mim. Os véus vão caindo e olhar torna-se mais profundo e amplo também.

Sei que não é só de mim que falo... o sistema cultural e educativo foi-nos ensinando sobre como nos devemos comportar para "encaixar" no protocolo social. E em acordos tácitos e contratos nunca assinados vamos cumprindo as normas de "bons mecinhos" para que tudo possa correr de feição e sermos considerados pessoas "normais" (que cumprem as tais normas que ninguém entende, mas todos cumprem para o bem de todos ah ah ah).

Temos de ser valentes, fortes e corajosos! E o que esconde essa necessidade de ser valente? O tremendo medo de algo. E olhar para o medo para saber que histórias ele conta, de onde vem... qual a primeira memória associada a ele... é permitir senti-lo na pele... como o corpo reage a ele. Em que partes do corpo está alojado... e que narrativas dementes te conta a tua mente porque um dia teve uma experiência que causou medo. E o que fazes para afugentar o medo, como te escapas dele e como o atacas para não falar abertamente com ele e assumir que ele existe em ti. Não para o perpetuares e te agarrares a ele, mas para o reconheceres, incluíres e acolher como uma emoção que te atravessa e que fala contigo, entrega a mensagem e segue o seu caminho, como qualquer outra emoção, quando permites que te fale.

Ao que resistimos há uma tendência a que persista, pois estamos em tensão, em luta, em batalha, a fazer pressão -  a conter. E aí estamos a potenciar as forças quer do medo, quer da valentia, numa medição de forças tremenda. E o mesmo acontece com qualquer outra emoção que queiramos ocultar ou exagerar em nós. É andar ao colo com a emoção e passeá-la para todo o lado e não permitir que circule. E quanto esta forma de lidar com, é inconsciente e sufoca a tua força de vida.

Falo do medo... mas poderia falar da tristeza, da raiva e até da alegria. Claro que as emoções têm intensidades e vibrações distintas e todas elas nos ligam à vida de perspetivas completamente diferentes, estão a cumprir a sua função para que recordemos o essencial. Aí a emoção é muito curta para expressar o sentir da Alma que se coneta a tudo em comunhão, na harmonia do que é... chamemos-lhe Consciência, chamemos Amor.

Vamos tendo vislumbres ao longo do percurso e do caminho, o recordo. E nos entretantos vamos dançando neste baile da vida, em relação, em emoção, o movimento que nos coloca em contacto para nos irmos reunindo e integrando as partes, na inclusão de todo o sistema e teia de que somos parte.

Entender para aceitar. Aceitar para Amar.

E para isso preciso de me permitir tocar e ser tocada... para que a vida se manifeste na sua dança.


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