A missão dos sentidos...




Sentido é o sentido que move cada vírgula, marcando um espaço entre cada palavra. Uma respiração. Um pequeno espaço vazio que faz a ponte para com a palavra seguinte, formando um ritmo, um compasso.

Não tenho respostas... tenho perguntas que me levam a mais perguntas. Levo em mim a vontade de me cumprir. De cumprir a cada momento como posso desfrutar mais e fazer esta criança cada vez mais sábia em alegria e prazer.

Não só das crises nascem as grandes perguntas como também dos grandes momentos de puro deleite. Eu quero mais... é abrir e que a vida me entre, nascendo, rompendo, rasgando, tomando o meu corpo e sentindo tudo, possa o meu amor ser derramado em cada célula do meu corpo e me percorra a pele, o coração. Já que a Alma alta vive à espera que a reconheça em cada toque de mim.

Essência pura que nada precisa de agarrar, tomar. Tudo lhe percorre sentindo cada viagem neste carrossel de impulsos que geram pulsares.

E que missão era esta que tinha para entregar ao mundo, a não ser existir na sua própria existência. Expressar-se assim sem jeito nem preceito... que seria a coisa mais séria que podia fazer. Ser poesia na dança que dança, no sorriso, na lágrima, no palavrão jogado de irritação, e do grito orgástico de prazer. Despir-se dos seus próprios preconceitos, definições. Olhar de frente para os medos criados apenas no software da mente, aquele vírus riscado do repete, uma herança herdada sem que a tivesse pedido. Como ganhar o euromilhões sem nunca o ter jogado. Ironias!

Há tanto tempo que não misturava as palavras que o seu pensamento lhe dita com as palavras que a música que passa lhe vai também revelando. É uma escrita a duas mãos e a tantas mentes. A de que interpreta a música que canta, a de quem escreveu e a de quem interpreta. O destino não quis. Diz que a andorinha ferida não pode voar. Vou queimar a lamparina, quando o rei me der sinal. Sou a flor da primeira música. Sou o cheiro dos livros desesperados. O seu olho me olha, mas não me pode alcançar.  E assim, sigo enfeitiçada pela beleza das palavras que rimam, que bailam, que brincam e exploram tantas fantasias nesta imaginação onde o impossível é a mente pequena que corta e recorta para que os grandes filmes sejam cortados por falta de orçamento para produção, sem que antes se tenha feito os cálculos. 

E assim as nuvens varrem os céus, sem antes o desenharem de tantas tonalidades, texturas. Tão assim na intimidade que nós aprendizes a humanos tentamos interpretar. Coração vertendo mel. Tudo bem, maestro. E a sinfonia toca, que a procissão prossegue. E a fé precede a devoção.

Magnífica a vibração que eleva os corações na mesma sintonia. Aí sentimo-nos juntos na mesma Unidade. Mais do que confiar e acreditar é sentir, é saber. O dom de deixar seguir a voz... e seguir os parâmetros da vontade divina para não me perder. 

Essa é a oração de comunicar com tudo e com todos. E aí nessa ligação perceberes-te escutado, presente e saber que nada está fora... ainda que não haja a resposta visível na forma comum que os olhos estão acostumados no ruído das luzes. Tu sabes... ah, como sabes. Que comunicas com cada partícula que te compõe e ecoa no éter da palavra que escutas, da folha que cai, no ladrar do cão que se recostar no teu regaço. No bom dia do vizinho, no Olá daquele estranho que resolve virtualmente meter conversa contigo. E mesmo quando te tentam vender o negócio multinível pelo linkedin e a chamada de telemarketing. Nossa, nossa senhora de todas horas, mãe, que está em cada rosto, em cada cruzamento.

E o pai do céu em cada ser que se cruza. Assim estamos divididos em géneros feminino e masculino. A criação que gera criação e que nos revela do que somos feitos, independentemente da vestimenta que possamos ter. É amor manifesto. Ainda que o oposto possa aparentemente estar a ser oferecido. São os amplificadores que ativam as nossas partículas e nos recordam, olha uma parte de mim, que segue ali naquele corpo. E olha como ainda não me vejo, olha as minhas feridas ambulantes, olha o meu deleite ali naquele sujeito tão radiante, que acordam e conetam as minhas células..... Acordem. Vamos para a festa da alegria!

Missão?!

Esta era a pergunta. A missão tem de ter sentido. E se o sentido for a loucura? Sim... ao que chamamos loucura?! Senão ao espetro do que não nos permitimos ser... enjaulados em gaiolas por livre e espontânea vontade, com orgulho de seremos prisioneiros dos nossos próprios julgamentos. 

O que faria se tivesse a coragem  de me mostrar ao mundo? E a energia para arrebatar e assumir a responsabilidade por ser quem se É. E se todos me abandonaram? E se te tiveres a ti como o melhor par, aí estarás na tua totalidade.... para que precisas dos demais???... se a ti te acolhes. Loucos são os que vivem nos quadrados, achando que esse é o limite, a fronteira.

E à medida que caminhas esbarras com os limites que moram apenas nessa caixinha. dentro de ti, e quando avanças, percebes que eram invisíveis e não reais. Os objetos são ricos em memórias e significados. Estabelecem um diálogo permanente. As coisas são as mesmas. Que não lhes tome a atenção do corpo. Nada do que está ali é ao acaso. E estão no mesmo lugar. O que muda é o pensamento de lugar e de espaço, mas não o objetivo.

O silêncio se estabelece. A mudança pode ser mínima ou radical. Mudar é essencial. Muda-se por uma nova ordem. Os erros precisam de ser nobres. Dói-se de tanto rir, alegria de viver no auge. O desejo de honrar a sua vocação. Humilde, frágil, humana. Tira o chinelo e pisa os pés no chão, e vai convicta com determinação cumprir o seu destino.  Vai a caminho da sua própria vida. 

Ela se vê como é, suspiros profundos, pavor diante da sua missão. Imagino desse seu olhar que olha a si própria dentro do seu próprio limite, frágil humana que é ar, trovão, água e brisa.

Não há nada no mundo que eu possa fazer... do que me cumprir perante a folha branca que sou cada vez que me derramo de tinta, palavras, música, para voltar a página e continuar a consagrar o abismo, a terra e o chão que piso. Agradecer à alegria, às borboletas reais do meu jardim e aos amigos que depois de me conhecerem, continuam a ter a coragem de ser e estar cá.

Agradecer ao milagre de ter ao que agradecer. E à Maria Bethânia poetisa de poemas cantados, falados e expressos em todo o seu ser. E pelas palavas soltas que voaram para que o sentido desse sentido ao sentido.
 É o dom da palavra que me inspira, me alegra, diverte, emociona e me faz vibrar em todos os poros por poder ser expressa. Será esse um dos dons que reverbera em mim,  me atravessa, me explode, me fragiliza, me enaltece e me faz ser este bamboo que ecoa e se espalha oco, oco.

Música na imensidão. 


Créditos de fotografia: Miguel Veiga


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