Aprendendo a dizer SIM



crédito da foto: Mauro Rodrigues 

28 de dezembro de 2020. 
Em contagem decrescente. 
Faltam 3 dias para a mudança do ano transato.

E assisto já nas redes sociais o adeus a 2020, os agradecimentos, o resumo do ano, os votos para 2021. E vamos lá depositar a fé e esperança no ano que aí vem.

O mês de dezembro tem a particularidade de me deixar melancólica, nostálgica... leva-me para uma reflexão profunda dentro de mim.

Costumo dizer que fecho para Obras! E aí no casulo, recolhida gosto de rever, reciclar e passear-me por mim nos 300 e tal dias do ano. E passeio-me devagarinho, mês por mês.

Custa-me despedidas... desprender-me e deixar ir... coisas de carangueja, vai melhorando com o tempo, mas ainda assim, gosto de me demorar, de sentir na pele, as memórias.

2020 está a ser, que ainda é, um dos melhores anos da minha ViDa! Trouxe-me tanto de bom, de me olhar com olhos renovados. De desfrutar mais, de me dar mais prazer, de me ter permitido viajar, conhecer um país novo, Húngria, de começar a estudar em Sevilha, de conhecer novas pessoas de outras nacionalidades, alugar um quarto a pessoas novas e reconhecê-las como família. Aventurar-me a ir para um retiro sozinha à descoberta, confiar. Passar férias no verão no Algarve, coisa que não acontecia... há bons largos anos. Permitir-me curtir férias, no relax total. Dar-me mimos, de 1 massagem por semana durante 2 meses, só porque sim, eu mereço. E ganhar coragem para começar a facilitar meditações na natureza, praia, campo e programa online e vídeos diários no YouTube, a falar, a dançar. A escrever mais regularmente nas redes. A mostrar-me, a ser e expressar-me só porque sim. Esta sou eu, este é  meu baile, a minha dança, a minha loucura. E chorei tanto de dor, tristeza, alegria nas descobertas e encontros que fui tendo de mim e comigo na formação de Constelações Familiares e reunindo e fortalecendo tanto de mim. 

Ganhei coragem e fiz uma sessão de fotografia de body painting ao peito no âmbito da campanha de cancro de mama. A iniciativa ótima, nobre, mas os valores que se levantavam pra mim eram bem mais elevados. Os da superação dos preconceitos, da liberdade de poder passear e mostrar o meu corpo como o quiser, amá-lo como é, com a gordurinha extra. Honrar o meu templo, a minha vontade e responsabilidade pelo ser que sou. 

Não importa o julgamento dos outros, nem da família, se é bem ou mal... mas honrar a Vontade. E que bem que sabe ser responsável pela sua própria liberdade e encarar os medos e desfazê-los. Para que ocupando o meu lugar, possa ser.

E encarando a vontade, desfazendo os preconceitos mais uma aventura lhe era proposta no caminho, de abrir ao networking em tempos novos... e abrindo-se ao novo permitir-se abrir, relacionar-se, e de coração  aberto confiar. 

Foi um ano de perdas também. A saída de um projeto de 5 anos, a que se entregou de alma e coração ao serviço... aceitar e reconhecer que tudo tem um tempo. Nada nos pertence para nos apegarmos. Tudo tem um tempo, para que possamos aprender, desfrutar e deixar ir. E há que fechar os ciclos, agradecer, amar e soltar. E quando há Amor tudo se torna mais fácil. O Amor não aprisiona, não quer agarrar nem conter. Permite que suceda e aí nesse espaço de liberdade torna tudo eterno e amoroso. Quis a vida também presentear-lhe com a morte do seu grande amor e companheiro Fofis a 29 de novembro. De uma forma repentina, fugaz e vivida na pele. Cada instante e até ao último sopro de respiração esteve presente a suportá-lo, a amá-lo, presente. A maior dor de 2020, deixar ir o companheiro de 8 anos. E sentir na pele a sua ausência em cada parte de si, na casa, na rua, em todos os lugares em que se fazia presente. E ainda que a saudade bata, perceber que ele está. Presente. Do outro lado do véu, acompanhando, vibrando. E que a inteligência divina sabe o que faz. Por mais que a mente pequena dramatize e sinta a dor da perda, por achar que de alguma forma possuiu algo. E na verdade, que honra e privilégio ter sido acompanhada por um Fofis tão bom. E que todos os dias e ainda hoje me continua a ensinar. A desfrutar do que é, sem querer conter nem agarrar... sabendo que o momento também passará. Tudo é provisório e impermanente e tão depressa nos esquecemos disso. E nos revoltamos e entristecemos. 

Queremos possuir na ilusão de que podemos ter o que está destinado a mudar constantemente. A matéria.

2020. O melhor ano de sempre. Fez-me ver tanta coisa, transformar, abrir, vulnerabilizar, mostrar-me e ter Orgulho em Ser o que sou.

E tanto ainda há por aprender e descobrir acerca do que sou, do que tenho para oferecer e receber da vida. E vou-me abrindo, pouco a pouco, permitindo-me e com vontade muita de Viver e receber o que a vida tem para oferecer. Estou a Aprender a dizer Sim!

E a pagar o preço por esse Sim! Sentir e perceber que estou Viva. Esse é o entusiasmo, habito uma carne viva.

.



Comentários