O day after

 


O ontem já foi e o amanhã ainda não chegou.... Tinha tanta bagagem dentro...tantas definições...

E a vida sábia ia pondo-lhe na encruzilhada da vida para ir desatando nós... e ser cada vez a sua própria casa.

Nunca fora acerca dela, nem dos outros... essas são as ilusões  a que queremos agarrar e encaixar. Queria ser simples e dentro dela habitava um  complicómetro. 

Começara a aprender a rir do seu ridículo, a tratar-se na terceira pessoa como as  crianças. Elas sabem! Não estão identificadas com o nome, com a carne, a adulteração é que os vai fazendo esquecer do essencial.

E neste carrossel ora me desmonto, ora me construo, a partir de um novo olhar. Já vesti tantas roupas, tantos penteados e despenteados, já vesti profissões, principios, filosofias, verdades absolutas. E de tal forma que por instantes me confundi com as formas. 

Exigi-me, exigi do outro, quis possuir, deter, conter, controlar... e quanto palco e palmas queria. Na ilusão de que se lá fora me vissem, reconhecessem e amassem eu podia saciar o vazio que levava dentro.

E a vida... sábia, dá-te. Dá-te tudo o que precisas para despertar e crescer. E sim, tive aplausos, plateias, construí e participei de tantos projetos. Inovação e criatividade foram as minhas áreas de destaque. Queria-me provar que era capaz, que tinha valor. E isso só era possível através dos feitos. Tinha de haver provas e manifestações. 

E a fome... continuava lá fora. Por mais prémios, vitórias e conquistas que conseguisse, a satisfação era efémera.... tinha de continuar a buscar.

Era uma exploradora. E no caminho.... percebeu que não havia nada a buscar, apenas encontrar. Os encontros e reencontros de si em cada momento, evento, no outro, em si. 

Continuava a ser exploradora? Sim, sem dúvida. Começara a desenvolver a arte de questionar e de confiar nas respostas do Universo,  do Grande Espírito, do Coração Pulsante que é a Vida.

É intensa, selvagem, tímida e ainda com tantos muros por cair, leva em si a ternura, a vontade de avançar, com respeito pelos diferentes ritmos.

Acredita no Bem, na Bondade e na Generosidade da Humanidade a que estamos destinados... e ainda que seja guiada pelo otimismo, a dor também lhe bate à porta, para que possa despertar e doar-se. 

Levou uma vida toda confundindo-se também com a Dor... queria arrancá-la de Si, dos que Amava e de todos. E a boa samaritana, era apenas a arrogante 😂,a achar-se  a maior, a heroína salvadora do mundo, na esperança que assim poderia talvez salvar-se de si mesma.

E nessa tremenda mentira... ia atropelando-se para não se olhar e apaziguar a dor que levava dentro. Tinha-lhe um carinho especial, e transportava-a, escondida de si mesma, para não correr o risco de ser expulsa.

E um belo dia.... a bela adormecida despertou. E disse de si para si: ""É tempo já!"De sair das desculpas, enterrar as memórias e recomeçar, numa nova pele, no único tempo que existe, presente.

Não havia mais nada a que se agarrar, a não ser, dela própria. E  como ela era grande. Tinha Alma Gigante e coração tamanho do mundo. Cabia tudo, sem ocupar espaço. 

Não tinha nada, não era nada, nem precisava de ser absolutamente nada. E assim livre... podia vestir todos os papéis.

E continuar a desaprender, aprender, ensinar. Tomar e soltar. Sem princípio nem fim.

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