Ao Terceiro Dia


Ao terceiro dia do ano transato resolvera escrever-lhe. Cada palavra é um soneto carregado de sentimento e transcreve o que lhe vai na alma. É um encontro que se dá. A respiração que se permite para sentir e ela escorre-lhe entre os dedos e manifesta-se. Palavras, ritmo, sonoridade. Assim bailam as suas formas dentro, assim se refletem fora.

Acordara em cama lavada, vestida de vermelho. Desmontava o altar de dia 21 de dezembro. A intenção semeada nessa data enraizava-se agora dentro dela, assimilada por todas as suas células. A decisão estava tomada, agora só tinha de se abrir ao inevitável, à Vida e aos seus mistérios.

Acordar cedo, meditar e deixar-se estar. Aproveitar enquanto pode dos momentos de quietude e calor consigo. O acessório naturalmente sai do caminho, e a vontade de ir reforça a coragem de arriscar, confiar que a estrada vai estar aberta para chegar ao destino.

E que boas são as metáforas que o quotidiano coloca para nos dar a oportunidade de desafiar limitações. De fazer face aos medos, encontrar soluções perante as adversidades e seguir em frente. E começar o ano a Desobedecer... só podia ser a melhor Obediência que se dava a Si Mesma. Da fidelidade ao seu caminho, às decisões tomadas e que é a Autora da sua Idade. E a pagar o preço por ser quem é.

E assim meditava, tomava o 2° banho de mar e assistia ao 1° pôr do sol do ano na praia.

Não tinha nenhum fetiche por resoluções, nem inícios de anos... mas o tempo ensinara-lhe que era importante recordar. Facilmente esquecíamos o que somos, o que levamos dentro, o Valor, a Coragem e o Amor. É necessário ires marcando, anotando para reforçar a vontade, a confiança e o Enthusiasmos. Que levamos dentro a presença de Deus, e ela manifesta-se na Alegria.

Gosto de marcar no tempo os bons momentos que me dou, guardar na memória a energia que se cria quando em comunhão com a família humana, animais, natureza. Recordo-me através dos momentos da imensidão e da partícula que sou.

Da insignificância e da magnificência. E como tudo é a mesma coisa. Preciso de me precisar para deixar de precisar.

E ao terceiro dia a Luz tocou-lhe no ombro, na pele, na cara, e lá do alto várias tonalidades pintaram o céu e o horizonte. Este é o véu,  a tela por onde se passeia. 

Disse Olá, Sorriu. Recebeu, cumprimentou e despediu-se de pessoas tão lindas, acabadas de conhecer. Já que o tempo não conta, e ficam a intensidade das memórias e quiçá algumas fotos. Recebera uma proposta inesperada, interessante. Disse Sim. Receber um cucu de alguém querido deixou-lhe um sorriso no rosto. Ler aquele texto carregado de simbolismo... batia-lhe a perceção e fazia-a escrever este texto, aqui e agora.

Afinal agora ao terceiro dia do mês, do novo ano, estaria em março a dar as boas vindas à primavera.

E até a reserva do apartamento de Sevilha para janeiro já estava a ser tratada. E a primeira missa do ano às 19h dava-se no dia do sol, como de habitual. E a rotina  aparentemente igual, mas com nova energia e presença. E  ainda guardava energia para receber em presença a amiga e partilharem-se conjuntamente com a sua as empanhadilhas  de batata doce...quiseram as cartas que reforçassem a vontade de arriscar mais para que a vida as viva... afinal são como os gatos, podem não ter sete vidas, mas caem de pé. Então vamos lá... ir de pé, com o próprio pé.

E já eram 3 da manhã, dia 4 entrava já a passos largos... mas para ela ainda era dia 3, embora o sono e a cama a chamasse já, só daria o dia terminado, depois de o fechar com a reflexão e a chave que lhe era proposta 03h03am.

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