Cri(a)tividade

Ontem perguntavam-me como conseguia sentir-me inspirada para escrever diariamente... e hoje dou por mim numa live à conversa sobre o tema Criatividade de Dentro para Fora.

Como não olhar para as sintonias e confirmar que tudo está conetado nesta grande rede. Estamos todos tão ligados por fios invisíveis.  E acompanhar sonhadores a concretizar os seus sonhos, e poder celebrar com eles é extraordinário. 

O caminho é para dentro e o exterior denuncia, revela. É no mundo lá fora que encontramos a matéria prima que nos compõe também nas circunstâncias, pessoas e permite-te trazer mais para dentro e explorar um pouco mais fundo, cada vez mais.

A maior fonte de inspiração que encontro é a Vida, na sua simplicidade quotidiana, nos encontros, nas partilhas. Aí sou tocada, aí permito contactar-me com o desconhecido que mora em mim, tecer definições, contradições, ter momentos de surpresa e espanto, de descoberta do óbvio, do senso comum, de me baralhar, de complicar e simplificar.

E a mente contente, regozija-me por ter material para dissecar, opinar, associar, comparar, analisar e, por vezes ela, mente, achando que está no controlo, chega a conclusões brilhantes, outras vezes é vencida e deixa-se guiar pela sabedoria do coração que se derrama através das palavras, exatamente para a calar, acalmar e orientar-lhe o caminho.

E ela sabia os lugares comuns onde abrir para estimular a circulação, mas outros resolveram tomar conta para romper-lhe exatamente essas estruturas. É importante explorar lugares desconhecidos e propositamente querer perder-se.

Só quando se perde o controlo é que te podes deparar com o que estavas a segurar, e permites que emerja todo a espécie de emoções, fantasias, projeções, expetativas o que for, que nem tinhas ideia que moravam aí dentro. Deparares-te com os teus limites. Perceberes que o teu limite de ontem se expandiu um pouco mais hoje ou se tornou mais claro.

A vulnerabilidade é a chave que vai abrindo as portas para entrares cada vez mais dentro, e permitir que as emoções aflorem e se expressem.

E a permissão repete-se. Tudo tem um ritmo próprio. Não o que queres, o que desejas e o que seria ideal. E ainda que deseje muito permitir externamente, internamente os comandos vão sendo despoletados à medida que estamos preparados para aceder.

Nunca estamos prontos. Vamos preparando-nos enquanto caminhamos. Precisamos de ir criando atividade, desenvolver a vontade genuína de caminhar e aceitar os retrocessos, as recaídas, os avanços, as paragens.

E na pequena distração enquanto escrevo passo pelo facebook e eis que sou presenteada com esta frase no feed "às vezes perder é ganhar e não encontrar o que se busca é encontrar-se", de Alejandro Jodorowsky.

E gosto tanto de dizer que tantas vezes temos um sonho, uma intenção e mais importante do que concretizá-lo é o caminho que se percorre.  Por vezes temos uma ideia, uma fantasia e percorrê-la faz-nos caminhar e pelo caminho amadurecê-la, atualizá-la, transformá-la ou até jogá-la fora. E isso só é possível porque um dia decidimos fazer a jornada. E aí também encontrar aquilo que realmente é útil e mais próximo do nosso coração.

É preciso jogar as definições fora, as caixinhas, os quadrados para que te possas encontrar em todos os lugares, sem que a nenhum deles te agarres.

É claro que queremos permanecer onde nos sentimos amados, queridos e confortáveis, sejam amores, amigos, lugares... mas para crescer é preciso ousar partir e seguir. Nada há para conter, a não ser por um tempo, e aí desfrutar desse tempo também e deixar ir, para que se torne a expandir.

Nesta dança de dar e receber, o equilíbrio requer movimento. E no movimento mora também a quietude. E tudo está dentro de tudo.

Em cada inspiração produz-se uma nova criação. E uma dança, por mais que tenha os passos marcados e seja coreografada jamais é dançada da mesma maneira. Quem a acabou de a dançar não consegue repetir todo o conjunto encenado. Não é só o bife que dança... e tudo o que é criado reverbera uma nova onda que se repercute e continua a gerar novas criações... and so on.