Perdida de mim


Dar de caras. Encarar. Assim caminho, olhando de frente, sentindo na pele... e mesmo quando a vontade é de fugir, escolho demorar-me mais um pouco para frente a frente comigo possa ir desenvolvendo a coragem de ser vulnerável.

A paciência tem sido uma das aliadas que caminha a meu lado, ainda que por vezes a olhe como inimiga. Tempo. Tempo que acelera ou que parece demorar uma eternidade, quando se quer o já, o aqui e agora. E o ritmo não é o meu, é o próprio da vida. E nessas denúncias a ânsia devoradora revela-se, de quero consumir-te já vida, sorvar-te num só travo... e será que assim te saboreio? E como se faz a digestão de tanta coisa absorvida em simultâneo?

Tempos houve em que trabalhava horas sem fim, e depois festas, convívios, e ginásio e hobbies e cursos e tudo e tudo. Dormia à pressa, porque as 24 horas não chegavam para tanta vida que levava dentro... e  o tempo, foi-lhe ensinando a relaxar, a contemplar, a apreciar a subtração.

A sentir cada passo, a escutar a própria respiração, a não fazer, a silenciar, a estar na sua própria quietude. Mas por vezes quando o entusiasmo lhe vinha de rompante, ligava o turbo e lá ia ela novamente em modo aceleração. Começava a recordar-se mais rápido que tinha nela também o travão e que podia ir doseando as velocidades.

Mesmo assim perdia-se.

E tantas vezes o melhor que lhe podia acontecer era perder-se de si mesma.

Como?

Como não?! O caminho de volta a si era sempre por uma nova estrada, cheia de aprendizagens. Era uma coleccionadora de histórias e de vidas.

Claro que caminhando perdida no escuro, tantos eram os saltos e sobressaltos que a faziam agitar, tremer, duvidar e estar desse lugar de não saber.... em que não havia de outra forma... senão agarrar-se de si e aí também encarar esse espaço vazio que morava dentro do não sei. E se noutras vidas esse espaço lhe parecia assustador e resistia, agora começava a aprender a desfrutá-lo.

No vazio encontrava-se livre. Não fazia puto ideia do caminho a seguir, e isso dava-lhe um certo gozo de ir à aventura, de confiar. De se colocar à disposição e serviço da vida e aceder a espaços e lugares completamente novos e também aí confrontar-se e descobrir novas coisas acerca de si.

Afinal quem se sentia perdida era a sua mente, por querer agarrar-se, controlar e colocar limites a este movimento que a levava a seguir o impulso de vida. Já não controlava mais a selvagem que habitava aquele corpo. E apenas restava-lhe acompanhar e pôr alguma ordem ao caos que ela ia provocando... mais ao menos como limpar a casa depois da festa (ahhhh).

Gosto destas analogias.... a mente, a fascineira ahhhh.... que ordena, estrutura, monta a estratégia com o material que vai sendo disponibilizado.

Perdida de mim é deixar-me vencer por tudo aquilo que achava conhecer, definir, saber e nesse espaço perdida poder encontrar o melhor de mim ao ser conduzida pelo grande dançarino que é a VIDA, e aí nessa dupla deixar-me levar e confiar nos passos novos... as duplas vão mudando os rostos, os cenários e as circunstâncias.... mas os encontros esses são sempre de Amor e Consciência.

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