Quinto Dia

 


A impertinência tinha acordado com ela. Sem pedir com licença, instalava-se um praguejar silencioso, com tanto ruído. Queria bater em alguém, espalhar agressividade por aí. Tudo lhe escapava por entre os dedos. E a sua criança queixava-se e fazia birra por não ver saciada as suas vontades. Queria reclamar, largar farpas por aí para descarregar o seu ego ferido.

Sabia que tinha tanta coisa por fazer e a voz ajuizada dentro dela dizia, vamos. Vamos indo. E a outra respondia sem papas na língua, Vai Tu! Deixa-me estar. Na minha preguiça e inércia. Está-se tão bem no quentinho, na quietude. E assim, adiou, adiou... até ao último segundo e a vida chamou-a. 

E finalmente, sem desculpas, nem licenças, DECIDE, é hoje. Hoje vamos comprar o computador, dê por onde der. E a força acompanhou-a, os obstáculos desfizeram-se, e os contactos indisponíveis tornaram-se disponíveis. Os conselhos chegaram na hora certa, e tudo fluiu. E até teve o tempo, a oportunidade de descarregar o que não tinha gostado com a pessoa que lhe provocara mal estar. Como se alguma coisa fosse pessoal, que não era. Mas poder expressar a sua verdade, ser honesta e acomodar-se dentro de si era o melhor remédio que se podia dar. Pôr em comum. Comunicar para fora.

E se de manhã acordara com os demónios, pronta a morder em que lhe aparecesse na frente, à tarde estava pronta a abraçar quem lhe aparecesse na frente e a espalhar o Amor. Divertida, bem disposta ia fazendo pagode de tudo.

E a vontade de fazer, criar, dançar e partilhar-se apoderava-se dela.

Assistia de forma fulminante à sua bipolaridade, ao furacão que era. E nessa assistência, suportava-se.

A melhor meditação que te podes dar não é quando páras e te reservas tempo para silenciar, mas quando caminhas na estrada da vida e consegues escutar os teus passos, aparar as tuas quedas, dar a mão às tuas contrariedades, não quereres mudar absolutamente nada e aprenderes com o briefing que te dás momento a momento. 

Aí percebes onde e do que tens fome, do que precisas, o que rejeitas, o que escondes, o que delegas para fora de ti. A oportunidade de amar vem em cada segundo bater-te à porta, à espera que a abras. Que te eleves e subas mais um degrau da escada rumo a ti.

Diz que é dia 5, estamos em maio, e a primavera já vai longa, desabrochada. Diz também que 5 é a casa do leão. Da brincadeira, do brilho, de irradiar com a essência o sol que és.

A palavra que dei para dia foi Ação, fazer. Com alegria, confiança e entusiasmo. Na presença de mim, estou na presença de Ti. E caio em mim.




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