Só o AMor é Real e ele conhece tantos lugares

                                                      (Jalcomulco, México, 2018)

Estou em tantos lugares em espaços tão curtos de tempo. O teletransporte leva-me em viagens incríveis ainda que aparentemente possa o esqueleto estar sentado no sofá.

Afinal quem é que viaja mesmo? O corpo é o veículo que regista a experiência da tua alma, mas ela está viva em tantas dimensões e em tantos corpos, porque Vive na Grande Alma.

E neste grande tornado que faz mexer todas as partículas que levo dentro e faz remexer e revolucionar, perco-me, desencontro-me, deixo-me ir por momentos no movimento. 

É preciso ir à centrifugadora para que como na máquina de lavar roupa, possas ser lavada, esfregada, enxaguada e espremida para voltares a vestir de novo, uma nova muda, uma nova fragrância. 

Vou traduzindo-me. Olhando aos sinais que a vida traz, aos eventos, pessoas, relações, embates, o que toca, como me toca. O pior e o melhor de mim, o que me sai. E vou fazendo descobertas, novos descobrimentos, do que preciso soltar, desapegar, ao que resisto, do que quero fugir, o que custa olhar.

E simplesmente observar, sem nada fazer, assistires-te como o melhor filme em direto que podias ver, e ao qual só te podes manter real, é a vida real. E escutares o corpo, como ele responde a cada movimento que lhe dás.

Quais as queixas, as necessidades que se querem atendidas... o que adias, ao que te obrigas, por achares que tem de ser. O que descobres da exigência, do esforço. E o que te revela a inércia, o adiar?

Na contradição, sintetizas, reduzes.... encontras matéria para resolver. E sempre precisamos ter desafio e coisas para resolver. Respostas para dar, perguntas para fazer. Dissolver, simplificar, juntar, neutralizar.

O que é Real?

A noção do que para ti é real torna-se a tua realidade. São os teus olhos, o teu olhar sob o que percepcionas que te vão dar a imagem, noção, definição de mundo. 

Vais receber da Vida o que conseguiste absorver e receber dos teus pais, do teu sistema, assim como vais dar na mesma consonância e reciprocidade do que levas dentro, das tuas crenças, do teu nível de consciência, de como levas dentro o entendimento e amor por ti. 

O mundo lá fora transforma-se à medida que transformas o mundo que levas dentro. Ele é cruel ou um milagre?

É que o Amor antes de ser o próprio, de liberdade, inclusão e expansão, ele é cego.

E o AMor Cego quer garantir que pertence, que tem lugar, que cuida, que tem importância, direitos e assegura-se que se sacrifica. O amor que se sacrifica, todos lhe devem. Ele vai cobrar, vai exigir que o reconheçam e devolvam. 

E perder a importância pessoal é resgatar o Poder de se Amar e se cuidar. E aí não queres ser nada, começas a subtrair as necessidades. Deixam de haver necessidades externas.

Como podes exigir receber de fora o que não te consegues dar. Se és completo e inteiro em ti, provês-te. Estás plena com tudo o que é, com o movimento que a vida te vai dando, a música que te permite dançar, a sonoridade, e desfrutas do caminho.

Não há lugar onde chegar e todos os caminhos, paisagens, lugares, profissões, tarefas, amores, relações te levam todos ao mesmo lugar, a Ti - ao encontro de seres mais inteiro e fazer mais e melhor amor contigo.

A fantasia colorida que a mente vai criando e ocupando-se com tantas narrativas, expetativas, ilusões, de que ali, acolá será feliz, pleno... "só quando... vou estar /ser" e aí vai-se demitindo do verdadeiro presente que lhe escorre entre os dedos,  o desfrute do presente, de contemplar o ar que respira... já que amanhã, o préstimo deste corpo, pode já ter escapado. A morte é também um presente que se encarrega de determinar a validade. E por vezes esse presente está tão presente que te esqueces de receber por inteiro o presente da vida. E ficas preso num futuro que não está nas tuas mãos.

Só o Amor é real. Ele não conhece limites, corpo, espaço, tempo. Ele é eterno, vai para além da vida e da morte, é existência, é criação, tudo contém e vai para além das nossas definições pequenas.... por isso tantos poetas escrevem sobre ele, mantendo-o como esta Grande Chama que abre, expande, revela e inspira a continuar a abrir.

E nos encontros e desencontros, vais aprendendo, desformatando, vinculando e desvinculando, experimentando, descobrindo através dos diferentes lugares, perspetivas, ardores, dores, amores, que só O AMOR É REAL E VIVE EM TANTOS LUGARES. E concentra, aquece, reúne, acolhe, cura e pulsa.

A beleza está nessa simplicidade, de ir simplificando, tornando simples a presença de estares em Ti, entheos (entusiasmo). E isso é Amor. Só pode ser Amor.

E a dança requer relação com cada um, com todos, com o todo, já que tudo é a mesma coisa. Dancemos pois.






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