Alucinar


E mais um mês termina. FÉvereiro. E ela tinha fé, e a proposta e compromisso de terminar aquele trabalho que lhe saía das entranhas. Era sobre a sua biografia. E escrever é voltar a abrir e olhar e reescrever a história com novos olhos. 

Mas enquanto se abre algo acontece dentro, há um processo subtil, uma viagem que se inicia e percorre todas as células.  Não se escreve por escrever, ainda que aparentemente assim possa parecer. Tudo mexe e quando se olha, muda-se o lugar e acomoda-se de uma forma diferente.

E se há barulho lá fora ou cá dentro de nada serve lutar, fugir ou fazer de conta que não vê. De que serve aumentar o volume para abafar o som que incomoda? Ele continua lá.

Olhar de frente pode incomodar, mas acomoda sempre. Estou a dizer sim, a acolher, a assumir e a criar espaço para integrar.

Os mensageiros não se enganam na morada. E vêm sempre por bem, mesmo que te apanhem de surpresa e te façam entrar em crise. Tudo precisa de circulação e circular. Se estás há muito tempo no mesmo lugar estagnas, densificas, cristalizas. 

E viemos para ser lapidados, esculpidos. Somos obras em evolução permanente.

Na alucinação são te mostradas outras dimensões e percebes que esta é apenas uma camada. E se tudo está mais vivo dentro de ti, o movimento, a velocidade é maior. E vibração é som e cor. E quanto mais subtil, menos palpável.

E se aqui onde estás for o Sonho aquilo que estás a viver? E se pudesses estar realmente Acordado, verias as diferenças?

Estamos tão habituados a definir, a distinguir, isto é preto, isto é branco. A procura de objetivar e objetificar.

E se... tudo isto for a Alucinação? Queres Acordar?

E as mensagens entram sem pedir licença.... para que recordes o que és, o que serves. E desapertar a consciência é recordá-la que não há portas, nem janelas, nem esquinas. E descondicioná-la é afunilar também a sua vontade e caminho à Grande Alma. E soltar, desapegar da forma, das formas... das tentações, do desejo, das obsessões a que habilmente a mente gosta de se armadilhar.

E aceitar que cada macaco cumpre a sua função... Afinal no Sonho tudo é possível e a imaginação é rainha.

E se alucinar é a coisa mais real, ou melhor, mais séria, que te poderia acontecer?

Que te serve olhar para o que te acontece num só plano, quando existem vários? E se há vários ângulos, como defines a partir da tua miopia? Como fechas.... se só podes abrir para te ampliar?

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