Caminhar

Estava empenhada em caminhar. Primeiro dentro. Focava-se nas suas novas decisões e estava a cumprir-se, pouco a pouco. E fazia a primeira caminhada destes tempos lá fora. 6 quilómetros, depois de tantas semanas de caminhada interior.

Soube-lhe bem apanhar com o vento na cara, espreitar a vida e o movimento lá fora. E realmente foi com surpresa que se deu conta que havia tanto movimento lá fora. Contrastava com o ritmo que levava dentro, mas não que isso a perturbasse. Constatava apenas a diferença de ritmos.

E o tempo movia-se em ritmo tão acelerado. Já estávamos quase a meio de fevereiro e quase se podia cheirar a primavera a querer entrar.

E se lá fora tudo parecia acontecer num ritmo muito rápido, dentro tudo parecia bem quieto, silencioso. A hibernação continuava, num cuidar atento, vigilante.

As visões iam chegando, ela sentia-as, mas ainda não se queriam mostrar. Andavam tímidas, a pedir-lhe confiança.

E bastava-lhe confiar e estar recetiva.

Sabia a direção e por vezes era chamada a caminhar mais, a fazer-se ao caminho com mais assertividade e rapidez, outras parar e observar.

É que caminhar implica ir desbravando mato, limpando as ervas daninhas, construir pontes para atravessar rios e desertos, tirar pedras e devolvê-las à proveniência. 

Não há pressa. Nem nenhum lugar onde chegar.

O que importa é estar a caminho. 

Não é quando queremos é quando podemos. E isso é escutar o ritmo próprio, as permissões internas e respeitar.





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