De olhos fechados vejo






Há dias... que observas e nem sabes bem descrevê-los. Sabes que tens de arrumar e limpar. 

Não consegues ver nem saber mais nada. Sabes que caminhas, que estás em movimento, mas tudo parece turvo e sem sentido.

Há uma parte que se inquieta. Quer respostas e direção. E há outra que se sente bem por não saber. E na dualidade nasce o conflito. E o burburinho cresce, como se dentro tivesse água gaseificada a fazer-lhe cócegas e não a deixa estar quieta.

Há quem lhe chame ansiedade, eu chamo bichos de carpinteiro. Que picam e fazem sair do lugar. Quando o mais fácil é ficar a olhar para o vazio, sossegada, a contemplar. Que chatice ter de fazer, experimentar, arriscar, sair do lugar, sujar as mãos. Que canseira... e digo canseira.... porque a vida sempre a desarruma. A adrenalina está sempre a convidar-lhe, a querer-lhe a dançar.

E tenho de a pôr quieta de tempos a tempos. E quando a quietude parece que veio para demorar-se automaticamente ela começa a procurar o movimento, a dança, a festa. Está-lhe no sangue.

E a dualidade equilibra-lhe. Precisa de tudo. Para que aprenda e possa sintetizar. Já não precisa de ir aos extremos. Já se toma a si mesma em doses mais balanceadas. 

E para sintetizar precisava de largar a bagagem. De se atirar do precipício abaixo. Largar a maleta das memórias gravadas, da biografia emocional. E regressar nua.

Venderam-lhe os olhos e começava finalmente a caminhar. 

Outrora de olhos abertos perdia-se no ruído, nos pensamentos, nas ideias, conceitos.

E agora...  o Coração começava a liderar.

Os passos ainda resvalavam....

E a emoção... enchia-lhe os olhos de lágrimas de uma alegria que a emoção humana não consegue narrar.

Avança!

A tua Alma chama-te e Acorda-te! Para que possas servi-la.


De olhos fechados caminho e escuto com clareza. 

Estou. 

Presente.

No vazio encontro-me e permito que a vida atravesse.

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