Making off


"Nem sempre sei por onde começar"... e há momentos que poderia dizer "nunca sei por onde começar".

Os motivos podem ser vários.... ter tantas coisas entre mãos e não saber por onde começar ou ter bichos de carpinteiro e o movimento está sempre a trazer-lhe coisas novas no caminho e ela curiosa tem que ir espreitar. Dispersão, distração e diversão são-lhe palavras muito queridas e que tantas vezes desaquietam.

Mas não se imagina sem esta alegria de poder brincar com a diversidade que a distrai. É alimento, é desafio. Precisa da novidade constante e de circulação. E dá por si a fazer várias coisas em simultâneo... e sim por vezes perde-se e perde energia e tem de recomeçar, mas tantas outras são um ganho. Na inspiração, no encontro da palavra certa, motivação e abertura.

E tantos temas lhe passaram hoje ao longo do dia, e mentalmente tomava nota, este é um bom tópico para escrever sobre. E eis, que agora chegava o momento de despejar o conteúdo e não se lembrava de nada.... escapava-se da sua memória.

Dispersão diria eu,  rotulando com os significados pré-existentes no meu dicionário incorporado na mente e no corpo. Mas, hoje, já não confia nesse rótulo. Prefere não lhe dar corpo, destaque ou importância... prefere deixar em aberto e observar-se. 

Vem a imagem dar uma ajuda ao texto. Foi uma foto tirada para capa de vídeo no seu canal de Youtube. Foi o making off fotográfico e achou-lhe piada, já não sabe que video ilustrou... mas a imagem visual permite-lhe a viagem nos sentidos. Como calar a mente? Vamos respirar, focar, silenciar.... Vamos lá fazer o making off, pôr ordem, planificar, disciplinar para que o texto se torne claro.

E assim vai escorrendo a edição do making off verborreico, ou será a sintonização e a ligação dos pontos que sucedem e se ligam. Assim ocorre a criação. Vai-se dando, vai sendo gerada. 

Nada aparece pronto. Tudo requer tempo, espaço para que a composição se vá dando.

E vai-se fazendo luz. E recordo-me das suas palavras "todo o ser humano tem a sua música. Nós estamos acostumados ao ruído. Tem de haver espaços de silêncio. É isso que permite que haja música. E há que fazer soar a música própria" (Mario Alonso Puig). E entre uma respiração e outra reparo na música que toca enquanto escrevo e ela, a cantora, diz "Become One... raise your voice"

E os pontos começam a unir-se. E percebo que não há um ponto, mas dois, e quando chego a um centro, percebo que há outro centro. O UM no TODO. O vazio e o cheio, o nada e o tudo. E tudo habita em relação. E quando estás no teu ponto observas a sincronidade dos pontos que se ligam em síncrono, criando a sintonia harmónica. A convergência, a conexão, a rede em fluxo. Está sempre, mas porque estás no teu centro, reparas. E em consciência apuras-te e contribuis.

Ela estava a preparar-se, em making off. E a informação começava a chegar-lhe. Sabia que tinha de incorporar a disciplina, o método. O compromisso já há muito estava lançado. Precisava de começar a ganhar novas formas.

E na aparente dispersão que a mente brincalhona lhe queria fazer crer, começavam a despertar-lhe temas para acrescentar e outros para largar de vez.

Ela pagava o preço por estar aqui. E se outrora a dureza, a rigidez lhe carregavam os passos de "assumir o peso da responsabilidade", hoje sabia que podia ser leve e estava a criar essa nova realidade... em silêncio. Guardou em si o foco e a determinação de cumprir com a palavra proferida e atualizá-la sempre que ela lhe pede.

É que o making off é mesmo isso.... repete as vezes que forem necessárias. Experimenta, reduz, acrescenta. Estás a experimentar, permite-te aprender. 

"Tropeçamos na mesma pedra, por falta de humildade de coração" (Mario Alonso Puig). 

Quem não?

Eu já! 

 A arrogância de querer que as coisas sejam à nossa medida. E quando não corre, deixa lá buscar o culpado. E porquê? Em vez do para quê? E a vida apenas dá o briefing para que possamos ter os dados e o material para o projeto seguinte. E teimamos em ficar no mesmo lugar, a bater de frente no problema, nas mesmas ações e comportamento. E depois ficamos remoendo na culpa. E não saímos do mesmo lugar. Por orgulho, por medo, por teimosia, por desejo.

E ocupar o teu lugar não é ficar sentada numa poltrona. Aqui estou eu na hierarquia, contribuindo para a ordem sistémica. É saíres do sítio para aprender e crescer com o erro, com a desordem, com o desequilíbrio. É pedir ajuda e dar ajuda. É assumir a responsabilidade por ti e por todos - na dinâmica de aprender e ensinar, educar. Temos a "obrigação" de nos conduzirmos uns aos outros. Ser guias, faróis, para a Grandeza de Cada Um e de Todos. 

Para que o Brilho que levamos dentro irradie e se espalhe. Essa é a Dádiva, a Dignidade e Grandeza a dar a todo o ser Humano, para que se Recorde da sua unicidade e autenticidade.

Talvez seja apenas a minha grande intenção e propósito, fazer-me vir, dar-me vida e querer derramar essa alegria em mim e no mundo, ou não fosse ela carneira, guerreira de coração a abrir caminho para dentro de si. Desviem-se ou deixem-se contaminar, que eu Sigo avançando.

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