Pausa



Fui ali ou acolá... já nem me recordo bem... e não voltei.

Desapareci daquela que fui há 5 minutos atrás, ou terão sido 5 dias, 5 meses ou 5 anos?!

E naveguei nas memórias das palavras soltas deixadas por aí para que nalguma ponta solta me pudesse agarrar.

Sempre há memórias que se criam e permanecem... mas sem esforço por as ir buscar. Que apenas e somente se soltem quando forem necessárias e aportarem utilidade.

De resto, de nada servem ocupar espaço na tela da mente e do pensamento.

É que quando pausei... tudo ficou em suspenso, menos o ar que continuou a dar alento a cada respiração. Tudo o resto parou. 

Desligar a ficha, permitir a atualização do software é deixar ir as versões anteriores. É abandonar os apegos, as histórias, memórias, crenças e emoções.... sem contudo abandonar-me. E a mente turva tantas vezes pensa que está a ir-se também. E de certo modo.... é deixar que a a morte entre. Que a mente perceba que morreu também para o conhecido e adquirido.

E nessa nova vida deixar as portas abertas e dar as Boas Vindas a tudo o que chega.

Sem critério e seleção. A vida nunca se engana quando te bate à porta nem se engana na morada. E tudo o que chega vem servir uma função.

E para quê o exato, o concreto, o definido?!

A obra nunca está terminada e o artista para criar precisa.... precisa de continuamente precisar. E mesmo quando achas que desististe de qualquer intenção...

O facto de não querer nada e não intencionar, estar nesse lugar de vazio, de presença nasce de um desejo que se torna vontade, até deixar de precisar de existir.

E enquanto houver Vida há espaço para crescer, evoluir e transformar... a alquimia da existência...ausência, presença, ausência... e neste jogo de esconde, esconde, a magia...

A magia?!

Onde está? Na chegada, no resultado, na descoberta?

Ou quiçá no processo que transfigura, transmuta, transforma, rompe, rasga, te faz morrer e renascer e dá oportunidade de aceder a tantas partes ocultas por conhecer. E do sintoma, reconhecer as dores, as feridas, a origem e a partir da raiz penetrar na viagem maravilhosa do potencial infinito....

O que cria a música são as pausas entre os compassos... assim como cada respiração contém a pausa entre cada inspiração e expiração.... E quando usas a voz para falar são as pausas que enunciam o tom, o ritmo, a emoção e a articulação entre cada palavra que compõe uma frase. ~

E na dança de cada conversa os silêncios são as pausas que permitem que os corações se liguem e se reconheçam. Queiras tu estar consciente e presente de cada presente que a pausa te concede e também chamá-la com consciência para cada instante.

Há as pausas presentes na pauta constante da nossa música e há aquelas que nos pedem para ir mais fundo, para que nos retiremos para o mais fundo de nós... para que nos atiremos para um poço sem fundo e possamos ganhar a capacidade de ir lá resgatar as partes que algures ficaram perdidas no outro lado do véu, do tempo, da memória, do espaço. E aí agarrares-te de Ti e ofereceres-te ao mundo.

Não antes sem estares em ti, habitando as partes que vais construindo e reconstruindo. Em cada pedaço de luz há uma sombra iluminada e outras tantas por iluminar.

E o Bem me quer é Bem querer-te.

E sempre que isso não for claro... não te apresses. Pára. Aquieta-te e Pausa.

Há sempre um Lugar dentro de Ti que te Quer bem, mesmo que a noite pareça escura, sombria, fria e sem esperança. Há sempre um pulsar e uma vida que te chama. Escuta o batimento do teu Coração.




  

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