Sustenta-te!




A vontade de ficar quieta fazia-a apreciar a textura dos seus dedos, da sua pele. Observava a sua respiração, o som quase inaudível que se seguia entre cada inspiração e expiração.

E como ficar quieta quando havia tanto por fazer?

Da mesma forma que o silêncio no sentido de ausência de som não existe, nada está parado ou quieto.

Onde há vida há Pulsar.

E quando a Vida é tanta e te invade todos os poros e a mente te inunda de flashes, ideias, conceitos, caminhos, possibilidades e vamos, vamos lá concretizar, fazer... és convidada a PARAR.

E ficar aí na não intenção. No não fazer. Contemplar. Estar no templo, habitar-me e permitir-me assistir em cada passo e presente. E sem tensão, nem intenção só preciso de abrir a porta para que entre.

E se sabia que estar no presente é estar disponível, recetiva, entregue à vontade divina e se por momentos vários conseguia aí estar, o convite era a sustentação. 

Sustentar-se de si e em si.

E ser o seu sustento tem uma profundidade que vai além da subsistência da vida mundana, também ela com o devido valor e lugar.

Sustentar-se na sua energia, a servir-se com a devida qualidade e nutrição, servir a sua linguagem, seguir os sonhos. Ser impecável com a sua Voz. E ter os condutores alinhados entre o que se pensa, diz, sente e faz.

E trazer-se para si, sempre que se perde e distrai nas curvas e ilusões da realidade efémera.

E continuar a amar-se e a amar... apesar das perdas, desilusões, frustrações, traições, apegos.

E seguir entusiasmada, curiosa, criança exploradora gargalhando e avançando para cada aventura, não querendo nada e no entanto, saboreando tudo.

E soltar, soltar tudo...

Desapego!

Sabendo que nada leva para a etapa seguinte. Transporta o bife, o corpo, o templo, o peso certo, com todos os botões e gatilhos para que na jornada se possa ir acordando e cuidando. 

E dar-se conta que a substância que leva e eleva é a ponte, a mediação, a flor que inspira, provoca, contribuindo sempre para outras substâncias. 

Todos os encontros e desencontros conduzem-nos às mesmas estradas e caminhos. Estamos destinados a reunir-nos no Grande Oceano da Existência.

Nos entretantos...  sê a tua mensagem, o pincel, a palavra, a obra manifestada. E se puderes, escolhe ser arte que muda o mundo.

Comentários