Arte que se pinta


Há dias que queria pintar. E parecia que o tempo, os momentos, as desculpas a faziam fugir e escapar desse espaço. Anunciou que tinha de ser. Estava a precisar. Começou por colorir o livro de mandalas.

E hoje. Hoje foi o dia. 

Prepara o material e o ritual. A vela que se acende. A respiração, a quietude, vir para dentro. A música e permite-se.

Há uma tinta que se joga para o centro. A cor chama-a. E veio-lhe o primeiro passo. Começar a distribuir a tinta do centro para forma e seguir-lhe o ritmo. Mas antes que a sua ação se iniciasse, muda de blusa, precisava de uma blusa mais arejada. Como se o corpo lhe pedisse maior expansão de movimentos, queria-se solta. E como que por magia quando olha para o papel com a tinta no centro.... a tinta já estava espalhada... tinha-se diluído no papel, sem que tivesse tocado.

Por instantes o seu olhar deteve-se a tentar perceber o ocorrido. E começa a sentir o molhado na manga que estava impregnada de tinta verde. E assim o mistério resolve-se. A blusa teria participado na pintura, por instinto e espontaneidade. 

A rapidez com que a pintura ganha forma, num fluxo tão fluído, concentrado, até que diz: Está.

Ela gosta de se demorar, divagar, perder-se nas horas, embrenhar-se nas ondas. Simplesmente ir. E de repente sente o impacto. Direto, assertivo. É isto.

Tu aqui não mandas nada.

Ela sempre gostava de preencher. Colorir. Também sabia que menos é mais. Mas quando na vida, nos exercícios práticos do quotidiano há esse devolução, percebe-se. Percebe que nem sempre é fácil assimilar o simples, o espaço, o vazio.

Ficar aí. Não querer pôr mais nada.

A mente brincalhona sempre quer atulhar e continuar a produzir.

E desapegar. Largar. Soltar. Não levar a sério o que a mente diz. Permitir que seja a vida, o corpo a comandar.

E como é que a vontade tremenda de pintar é saciada em 10 / 15 minutos. E a satisfação é plena. Mas a mente questiona e guerreia.

E como é que abrir espaço para Criar aciona e despoleta tantas criações para além da visível em vários planos e dimensões. E Ver, Observar é Receber. E estar aí.

E quando se Está... repara-se. Há uma presença, um vazio tão pleno.

Que amplia e expande o sublime, o subtil,  através das formas, da cor, da vibração, do sentir, das sensações e o concreto. As provocações, os incómodos, a relaxação, a quietude, o prazer, a satisfação. 

Um novo entendimento e consciência que sempre se ganha.

Porque tudo está sempre no lugar certo, a cumprir uma função!

E a expressão quando se cumpre tem a força de sempre expressar.

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