Somos livres!


Diz que há dia que celebra a liberdade. O fim da ditadura, o fim de um ciclo. E o fim marca sempre o início.

E um povo que conhece a clausura aprecia com novo sabor a livre expressão. Somos livres. E normalmente apercebemo-nos quando vemos as grades de uma gaiola.

Eramos livres e não sabíamos?! Hmmm.... estranha frase essa. E na verdade, diz-se que há uma tendência a apreciar e valorizar depois de perder. Enquanto se vive e se está no momento, vive-se e não se reflete. E é na polaridade, presença e ausência que podemos dar-nos conta.

Eramos livres e não sabíamos?!

Só porque te "confinaram" e puseram máscaras, isso não significa que agora estás preso e antes eras livre. Talvez precisássemos de ver as grades para percebermos que presos estávamos. E não sabíamos.

Escravos de um trabalho, de uma rotina, de um horário, de um salário, de pagar contas. Escravos de um estatuto, de uma posição social, de um casamento, de uma relação. Escravos de um comodismo inerte, automático, cego. Escravos das aparências, do ter de ser, do ter de ter, escravos de uma perfeição, de uma exigência.

Escravos!

E agora vem uma vacina, um chip... o nome, o acto visível "da imposição", do "controlo" de uma autoridade externa devolver o quão alienados andamos. O quão desesperados andamos por uma mãe e um pai que tomem conta de nós. Que nos diga o que é para fazer. O quanto nos demitimos por assumir a Responsabilidade pela nossa Vida.

De Vamos lá, Arriscar, Explorar, assumir os riscos e avançar. E podermos amparar as nossas próprias quedas, e usar da nossa força para nos levantarmos. Aprender e Continuar. 

É que Liberdade é Compromisso, Vontade, Disciplina e Pagar o Preço por cada Ação. É cuidar de cada passo que se dá, honrando cada pé ante pé, cada palavra, cada expressão. 

É respeito. É levares-te no peito a todo o instante. E se te levas a ti, no coração, também respeitas os Demais. És a tua própria Autoridade e respeitas a Autoridade do outro. Cada um tem direito à sua. E há espaço para todos. Já que a minha não é melhor que a tua. 

Não se trata de ter a razão. Trata-se de haver espaço para que as várias razões possam coexistir, sem que nenhuma tenha de se sobrepor à outra. É cultivar espaço para reflexão e para o questionamento. É permitir a atualização permanente das verdades. Que sejam as experiências e as lições da vida a amadurecer a sabedoria. 

É no lugar da partilha que se cresce e acrescenta. Quando os egos deixarem de querer provar seja o que for. Quando ninguém quiser ser melhor que ninguém. Quando nos deixarmos de métricas de avaliação quantitativa nas escolas, no trabalho, na vida. E deixarmos de incentivar a competitividade, as lutas. A liberdade é aceitar que possa existir todas as expressões e elas possam ser. Não há necessidade de reprimir, condicionar, sugerir.

E se tiver de lutar e travar alguma batalha... será essa. A de derrubar os muros e armaduras que se revelam dentro. Aquelas que ambicionam. Que querem mais, e que empurram a realização para os sonhos e para o futuro... só porque os olhos e o sentir não consegue perceber que nada precisa. 

Já somos inteiros. Livres. O que posso ambicionar se nada me falta e tudo tenho?

E se desejo ser livre... é porque preciso de dar-me conta das amarras que levo dentro. As circunstâncias espelham, refletem as memórias de quanto tempo tenho vivido refém e aquém de mim.

Esse é o resgate. Essa é a cura. Encontrar novas soluções para fazer a paz.

A cada encontro, encontro-me melhor.

E percebo que Livre Sou!

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