A pele que visto



O que está por detrás da pele que vestes?

Ela veste uma medida, um tamanho... e para além de uma marca, uma roupa, uma cor... quantas cicatrizes descrevem a tua biografia, e as diversas páginas do livro ambulante que segues escrevendo?


Não me dou por adquirida, acabada ou pronta. Sou uma surpresa que me habita. E quantos mais coelhos vou tirando da cartola, mais descubro que a fertilidade abunda.

Sou abundância! De feitos, de dores, feridas e também de Muito, muito Amor!

Tenho lágrimas de crocodilo, de compaixão, de raiva, de tristeza, alegria, comoção, reconhecimento.

Quebro facilmente e desmonto-me... ainda que a armadura da pele queira esconder e disfarçar para se proteger. E vou percebendo que é preciso quebrar para que volte a reunir de uma nova maneira.

O olhar precisa de ser renovado todos os dias, por isso tenho de me movimentar, de arriscar novos passos. E quebro-me mais e recomponho e componho novas formas. Variadas. Quebrando também os tabus do certo e errado, do bom e do mau.

E digo SIM! E vou ficando mais leve por dentro e por Fora. E a pele vai descontraindo e percebendo que não precisa de se proteger mais.

E vai soltando o volume, a armadura, as amarras...  e o jogo do esconde, esconde vai-se pondo às claras.

E desinflama.

Há uns anos atrás disseram-me, "sempre que travas um cigarro dizes à vida, ainda não. E segues intoxicando, densificando a tua energia". Pareceu-me um pouco exagero, mas marcou-me, tocou-me. E eu passo sempre a mensagem, "se te toca, mesmo que não concordes, se te fica presente e gera incómodo, leva para casa e dá-lhe utilidade". A mim serve-me. 

E hoje que já não fumo percebo perfeitamente a mensagem. A liberdade que ganhei, a respiração e acima de tudo recuperei partes de mim. Há sempre um resgate muito profundo do ser. 

E a liberdade ainda que seja um anseio não é fácil de tomar, quando a mente está ainda no padrão do condicionamento. E claro está... substitui uma prisão por outra. O que importa é manter o apego, o vício.

Pouco a pouco, vamos libertando, soltando. 

O mais fácil é tratar do sintoma. Treinar o corpo físico, limpá-lo e proceder a uma mudança de hábito.  Mas o mais importante é aceder à origem. Ganhar a coragem de ir olhar. Abraçar e incluir o ainda não consigo, o conflito e olhar para o que dói. E se achas que já consegues estar vulnerável abre-te mais um pouco e aprofunda. Sempre há caminho para desbravar. E emoções por acalmar, e mente por editar e pôr ordem aos cavalos para que sigam o caminho do condutor. 

Aprendendo a dizer Sim à Vida é Estar no Não SEI! E CONFIAR! 

A Vida sabe mais do que eu!

E é preciso humildade para a receber e largar todas as ideias e definições para segui-la.

Pouco a pouco... sentindo a pele que visto.

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