ACOMPANHA-TE



Aprender a dizer sim aos nãos que a vida traz. Questionava-me sobre o que haveria de escrever, sendo que a vontade me empurrava para exercitar os dedos por aqui. Sabe-se que tem de se vir, mas não se sabe bem fazer o quê.

E eis que nos milhões de frases e apontamentos que vou deixando soltos por aí me salta à vista "APRENDER A DIZER SIM AOS NÃOS QUE A VIDA TRAZ".

Parece fácil... então é só dizer sim 😂 E na verdade... qual verdade?

Quando na pele o automatismo te leva a repetir os padrões... que vêm tão lá de trás, da mãe, do pai, que nem reconheces a respetiva origem. E alguns são tão silenciosos, que nem se dá conta, Padrões? Quais padrões?! 

E já foste!

E quando rebenta aquela cólera e irritação subtil que vem tipo moinha... impaciência, estás a ver?! É só aquela raiva escondida que vem de fininho mostrar-se. Que está aí para te tirar da ilusão do sossego que achas ter.

Somos peritos em pregar-nos mentiras. Em dizer que está tudo bem, enquanto a pele entra em erupção, o intestino se revoluciona, e o estômago se contorce e a cabeça explode com a puta da enxaqueca que agora resolveu aparecer diariamente. Mas tirando isso... tudo está a correr bem.

Vêm como afinal digo sim às contrariedades que a vida traz?! Eu estou bem... é só o corpo que é um histérico e gosta de se mostrar 😅

E dizer sim é permitir. Permitir que tudo atravesse. Que venha. Ainda que doa, permitir que doa. Que se possa sentir tudo. A imperfeição, a frustração, a raiva, a impaciência. O não estar disponível. Aceitar a própria resistência sem querer arrancá-la, nem que ela se vá. 

Acompanhares-te. E acompanhares-te em todos os momentos é estares lá para ti. Na alegria e na doença até que a morte te separe do corpo. Até lá, que possas viver o melhor casamento contigo incorpus, "inmovere" e "inmente" (estou a inventar palavras, mas ficam xique e bem, like :))

E Deus sabe... que às vezes é insuportável aturar tamanha impaciência e só apetece mandar-nos de férias. Pelo menos a mim, às vezes, acontece-me e mais facilmente me dou conta disso, quando olho para o meu irmão e me aborrece ouvir e aturar as suas cenas... as histórias, os dramas, os queixumes, o toque da mesma música. E a consideração externa fala-me da interna, afinal, os outros não existem. 

E apareço sob tantos disfarces na pele dos outros e eles na minha para entregarem mensagens. E receber é receber tudo... e abrir os braços para o que não é assim tão agradável, para o que irrita é desenvolver compaixão comigo, incluir os fragmentos que luto para excluir e arrancar.

E digo sim ao estar aí... sem querer mudar uma vírgula. Ah... mas e tal tens de melhorar, aperfeiçoar, amar. Sim! No tempo e ritmo próprios. Não naquele que a minha mente rápida desejaria, porque ela sempre quer resolver e de preferência, já! Mas no tempo que o ser interno decidir o certo para ele. Enquanto isso vou-me disponibilizando, abrindo, treinando, cultivando o jardim e regando com as palavras, o conhecimento, a energia que vou conseguindo vibrar. Vou sendo o meu próprio bálsamo e tratando das feridas à medida que forem aparecendo.

A vida sempre sabe mais do que nós. Ela é misteriosa e vai-nos testando e desafiando para sair do lugar e para crescer. E por isso frustra-nos, contraria-nos.  

E não é pelo caminho percorrido de consciência que os desafios se vão tornando mais fáceis, antes o desenvolvimento do músculo vai permitindo que dances melhor, que o movimento seja mais fluido e possas suportar mais e mais crescimento e testes. 

E a ignorância?!... Essa passa a ser maior, para que possas caminhar cada vez mais de olhos fechados, confiando na sabedoria da vida. E permitas ser conduzid@ na dança por ela.

Só tens de te ACOMPANHAR!

Na verdade sabes que o mais fácil é alheares-te, fugires, pôr debaixo do tapete, dissociares e compensares. Deixa ver se te é familiar.... os outros precisam de mim e ocupo-me em cuidar dos demais, só para não olhar como estou e não ter de encarar como me sinto. Ou então, vou ali às compras, encher-me de roupa e dos últimos tlms de ponta para me sentir satisfeit@ e saciad@.  Vamos para a festa, beber até cair de cú para estar em altas, completamente anestesiad@. Deixa lá relaxar com mais um cigarro e vou dando-me a ilusão que tenho pausas para mim, enquanto fumo mais um cigarro e me enveneno mais um pouco. E lá acomodei um pouco a ansiedade, pois por breves minutos fiquei ali presente a saborear o cigarro. Vamos relacionar-nos, preciso de um dating, e vamos para as redes sociais dar mais um shot de likes e visualizações, e mais um dedo de conversa para me sentir olhad@ e vist@ e apreciad@. E mais um gelado, eu cá sou mais bolos, e açúcar... tão bom gratificar-me e premiar-me com comida. Sinto-me abundante, satisfeit@ e reconhecid@ e assim vou protegendo-me na camada liposa para que não me alcancem o castelo forte das emoções protegidas e, a vulnerabilidade fica salvaguardada. É só mais uma série de netflix, e aí fico adormecid@, alhead@ do que se passa dentro e ao redor, na bolha da anestesia à dor que não me quero permitir sentir. Amo o meu trabalho, passaria a vida inteira a trabalhar, de sol a sol, workaholic, e a tudo se resume a trabalhar, porque aí é onde vou buscar os troféus que alimentam o meu ego, já que me defino pelo que faço e tenho.

A tal ponto nos distraímos com as ocupações que ocultamos a dor de nós mesmos, a ponto de não a sentir ou sequer saber que ela existe dentro de nós. O terror de poder vir a sentir, de poder ser destruído, aniquilado, desaparecer, morrer.... faz com que fujas de ti a sete pés, ainda que contigo vivas.  E há um preço a pagar. Sempre. Já que viemos a esta escola para sentir, para encontrar o amor que nos habita e habitá-lo mais e melhor.

Vamos arranjando parceiros e a necessidade de comungar com o outro e de nos relacionar persegue-nos, revelando a grande vontade de regressarmos à relação connosco e de sermos verdadeiros companheiros, honestos, leais, íntegros. É o desejo profundo de TE ACOMPANHARES.

E acompanhar-te é saberes... que tens defeitos, qualidades, que és fragmentad@ e ainda assim receberes-te como o teu maior amor, sem quereres mudar uma só vírgula.

Eu continuo no caminho de aprender a Acompanhar-me cada vez melhor. 💓



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