O meu quintal

Fui ali ver o outro lado de dentro. Alargar o quintal da minha casa. A extensão da terra que habito não tem fim.

E às vezes ficamos na periferia, insistindo em fazer os mesmos quilómetros, a pisar o mesmo solo, a repetir os mesmos passos. E ampliar os sentidos, a terra, a casa, a visão é ir para o desconforto. É tornar experiência as ideias que se levam na cabeça. Dar-lhes forma. E deixar cair por terra as expetativas, as projeções.

É encarar os medos, os monstros que sempre se formam. Aqueles que nem fazias ideia que te iam passar. É descobrires novas formas em ti, novas linguagens, nova audácia e também novas vulnerabilidades.

 É explorar o pedir ajuda, o dar ajuda. O ser conforto e ser confortada. É receber, e ainda assim abrir espaço para receber mais.

É deixar ir a vergonha, é descobrir ainda mais vergonhas e permitir que se manifeste e deixá-la ir. E receber, não é só receber de fora. É receber de mim para mim. Receber o meu comportamento, as minhas feridas e dores. Receber-me completa na minha incompletude. E ainda assim achar-me tão bonita na sombra e na luz.

E abrir os olhos para fora e poder ver e sentir o Amor em toda a parte, em todas as formas.

 A manifestação sempre se revela. De todas as formas, em todos os lugares e rostos. As sintonias, as sincronias, as surpresas. A fonte sempre jorra.

 E para isso é preciso ir ao quintal mais vezes. Almoçar e jantar fora, abrir para conhecer a família que ainda há por conhecer. Atravessar as barreiras da mente, do conhecido, do sentido.

E sabemos... ó se sabemos que por vezes dar o primeiro passo custa horrores. Há o medo que falte chão, direção, força, fôlego, palavras, ação. E ainda assim ir, com todos esses demónios e ir dissipando-os e fazendo amizade com eles ao longo da travessia. E o quintal pode ter milhares de quilómetros e será sempre a casa. E os outros poderão ter idade, cultura e língua diferentes e serão sempre família. Não importa o credo, a cor ou quão diferentes e distantes possam parecer. 

E atravessar esse quintal dentro de mim das barreiras dementes que julgam, criticam e passam certificados de incapacidade, debilidade e negligência. 

Que o único certificado seja o de Vida. Aquele que certifica, belisca e confirma que é Aqui que tens de estar. Foi aqui que escolheste viver para desfrutar da experiência humana.

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