Vou por aí, contigo!



Desenrolar os dedos e deixar que eles dancem na pele. Há instrumentos que se querem tocados, seja o teclado que quer expressar-se através das palavras, seja o contacto na sua própria pele para revelar a ternura e a dança de se fazer presente. Seja o contacto com o outro pela vontade de acarinhar, de levar a ternura, o calor ao coração do outro.

Somos amor em manifestação e transportamos as mãos que dão e recebem. E tantas vezes esse toque é tão invisível, tão presente e profundo. A pele relembra-nos que somos matéria, mas na verdade os toques mais profundos dão-se na dança que ocorre entre almas que já se reconheceram. 

Hoje saía do carro, e o Popeye, o cachorro da família já ladrava, sentindo-me a presença, ainda eu estava na rua a caminhar para o prédio. E a surpresa de como ele me tinha sentido era manifesta pelo meu irmão. E sorrindo, recordei-me. Como estes animais fantásticos, o cão, nos evidencia a amplitude dos sentidos. De como podemos detetar a uma distância tão longínqua o outro, as sensações. Não há tempo, não há espaço, não há distância.

E quando falam de confinamentos e distâncias físicas... recorda-te. A maior distância que podemos criar é entre corações que viram as costas uns para os outros. Claro que se estamos num corpo, ele reconhece-se noutro e aquece-se e funde-se, ou não seria o abraço o contacto mais íntimo que podemos ter com outro ser.

As circunstâncias exteriores sempre nos devolvem ao mais profundo de nós, para que possamos reparar.

É preciso luz para detectar a sombra. E com estes holofotes todos ligados e apontados para determinadas questões que antes nem se colocavam, obrigam-nos a observar o que lá /cá vai dentro.

E se aprofundas, se acaso tens a coragem para penetrar no fundo de ti, afrontas-te, encaras-te. E o que está para além da distância de ti, do medo, do "achares" que queres proteger e salvar o outro?

Consegues ser exploração, descoberta e viagem dentro de ti?

ou estás apenas no filme do que te é mostrado e aí na rama atiras os foguetes e apanhas as canas? Consegues sublimar-te?

Do que reclamas? Do que te queixas?

Que porras vieram ao de cima assim que te começaram a mexer as águas? O que está parado, calmo, quieto está apenas hibernado. Quando é abanado o fundo movimenta-se, e coisas emergem.

É a cura que chama por ti, para que te incendeies, purifiques e laves e possas reconstruir-te de um novo lugar.

E o desenrolar dos dedos fazem magia. São a dádiva, o instrumento que acolhe, acaricia, segura, mantém, cria. E olho para o Popeye o cachorro, que pede festas e quando terminas vem com a boca buscar a mão, quer que continues a esfregá-lo. E ele pede e joga a boca, a pata, e se não chegar ladra-te. É um peganhento por mimo e abrutalhado na forma de pedir. Mas é impossível não desenrolar os dedos para lhe tocar.

E se viemos com mãos foi para tocar e ser tocados. Seja através da poesia, música  na arte de ser humano com a Vida e a Existência.

Desenrola-te, abre-te! E possas quebrar a barreira da distância que existe de ti para ti. É preciso coragem para ir dentro e navegar no que mora dentro.

Quantas coisas nem às paredes confessas, quanto mais a ti mesm@. É preciso ousadia para se destapar e ir lá olhar, mesmo que cheire mal. E dares a mão e dizeres-te, eu acompanho-te. 

Vou por aí... contigo!

É que a maior magia não é reconheceres-te no outro, mas em ti! E aí sentes recordas-te.




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